Violência Doméstica: Três Pontas registra mais de 60 pedidos de medidas protetivas de janeiro a julho deste ano

Neste Agosto Lilás, ações de proteção à mulher são intensificadas pelo Projeto “Semeando Cidadania”

De janeiro a julho deste ano, a Delegacia de Polícia Civil de Três Pontas registrou 61 pedidos de medidas protetivas para mulheres que sofreram violência doméstica. Em 2021, os requerimentos somaram 126. Os números mostram que os crimes contra a mulher estão cada vez mais presentes na realidade trespontana e que é preciso intensificar ações que sensibilizem e conscientizem a sociedade sobre o necessário fim dos ciclos de violência e para a realização de denúncias que possam levar à responsabilização dos agressores.

Através de ações pedagógicas, o Projeto “Semeando Cidadania” combate a violência doméstica em Três Pontas. Em março, por exemplo, com apoio da Secretaria Municipal de Educação (SME), foi realizado um ciclo de palestras e debates em escolas municipais. Recentemente, o Projeto levou informações fundamentais sobre o tema até instituições de ensino frequentadas por crianças e adolescentes de Santana da Vargem.

“Acreditamos na educação como um caminho para a defesa dos princípios republicanos, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Assim, o Projeto leva esclarecimentos indo ao encontro das demandas de uma sociedade carente e à margem dos seus direitos e deveres. Neste contexto de direitos humanos e cidadania, o combate a qualquer tipo de agressão à mulher é tema central”, comenta Dra. Eliana Braga. Foi a advogada quem criou e coloca em prática o Projeto “Semeando Cidadania”.

Violência Doméstica: Dra. Eliana Braga, Projeto Semeando Cidadania
Dra. Eliana Braga em uma das palestras ministradas em escolas de Três Pontas (Crédito: arquivo pessoal)

Agosto Lilás

Aproveitando o mês em que a Lei Maria da Penha completa 16 anos, as propostas do Agosto Lilás ganharam reforço nas atividades do “Semeando Cidadania”. Dra. Eliana explica que a lei é importantíssima, mas somente ela não basta. “É preciso um trabalho cotidiano para promover a mudança cultural necessária a por fim a essa triste realidade”, diz a advogada e completa: “é fundamental que todas nós, enquanto mulheres, possamos exigir e cobrar do poder executivo brasileiro e de todos os estados o cumprimento daquilo que é direcionado para as mulheres, sem contingenciar ou remanejar, para aquilo que está na lei possa ser uma realidade praticada todos os dias na sociedade”.

A Lei Maria da Penha, instituída em agosto de 2006, é considerada uma das três maiores leis de proteção à mulher do mundo. Ainda assim, reduzir o alto patamar de crimes e implementar políticas públicas de proteção, acolhimento e igualdade para as mulheres continuam sendo um grande desafio. “A violência contra a mulher é um problema de toda a sociedade e é com coragem e seriedade que temos que enfrentá-lo”, convoca Dra. Eliana.

Fases da violência

Entre as medidas protetivas de urgência está o afastamento imediato do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. No entanto, analisa a advogada, é preciso evitar a instalação ou o agravamento do ciclo de violência, observando algumas fases e tomando providências o mais rápido possível.

Fase 01: aumento da tensão

O agressor geralmente fica irritado por coisas insignificantes, humilhando e ameaçando a vítima, fazendo com que ela se sinta triste e angustiada entre outras sensações. Nesta fase, a vítima entra em processo de negação, escondendo os fatos de outras pessoas e tentando achar um motivo para culpar-se por tal atitude.

Fase 02: ato de violência

Nesta fase o agressor perde o controle e qualquer motivo gera um ato violento, seja verbal, físico, emocional ou outro. Geralmente nesta fase, a vítima paralisa e fica sem reações.

Fase 03: arrependimento e comportamento carinhoso

O agressor pede desculpas por seu comportamento e tenta justificar com alguma coisa que a vítima fez e tenta a reconciliação. Há um período calmo, pois a mulher sente que houve mudança em seu comportamento. Com a demonstração de remorso por parte do agressor, a mulher se sente responsável pelo que aconteceu.

Na violência doméstica, o agressor vai jogando com esse afeto, buscando obter o controle. Na linguagem popular, “morde e assopra”, causando um sentimento de confusão na mulher, de dependência, de não saber mais se a culpa é dela, se ela que está provocando, se ela fez alguma coisa errada. “Esse é o terreno propício para se instalar o ciclo da violência”, alerta a Polícia Civil de Três Pontas.

Dra. Eliana Braga destaca que as fases vão se repetindo até que nesta relação tóxica e abusiva, a mulher consiga reunir forças e tomar a decisão de buscar ajuda, seja contando com apoio de familiares, amigos e até mesmo órgãos públicos.

Autonomia

O Projeto “Semeando Cidadania” chama a atenção para dois outros pontos. Para o Programa “Sinal Vermelho” que incentiva mulheres vítimas de abusos, ameaças e agressões a pedir ajuda por meio de um “X” vermelho na palma da mão.

E ainda para a promoção da automomia econômica da mulher em situação de violência. “Por meio da educação financeira, qualificação profissional e de inserção no mercado de trabalho, a mulher tem condições de prover seu sustento próprio e de seus filhos, rompendo assim as amarras que a prendem ao seu agressor”, defende Dra. Eliana Braga.

Lançamento

Ainda neste Agosto Lilás, está sendo lançado o Projeto “Abuso Sexista no Local de Trabalho”, mais uma frente a ser trabalhada pelos voluntários do Projeto “Semeando Cidadania”. A ideia é dissemiar quais são os preconceitos enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho e as formas de combatê-los.

Violência Doméstica: Três Pontas registra mais de 60 pedidos de medidas protetivas de janeiro a julho deste ano

Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher