Folias de Reis: amor, devoção e…
Entre o fascínio cultural e o medo dos marungos, uma jornalista em crise existencial
Ah, as Folias de Reis! Uma das maiores manifestações da nossa cultura popular aqui em Três Pontas. É impossível não se encantar com as cores, as músicas, e o espírito de devoção que invade as ruas. Como jornalista, com meus bons anos de estrada e histórias, confesso: sou fascinada por esse espetáculo.
Masssss… só de ouvir as batidas dos bumbos e os gritos anunciando a passagem das Companhias, sinto aquele arrepio na espinha. E não, não é emoção, minha gente, é medo mesmo! Medo dos marungos. Aqueles mascarados ainda me deixam com o coração na boca e o instinto de fuga ativado.
Quando criança, eu tinha uma estratégia infalível: esconder-me debaixo da cama. Porque, claro, todo mundo sabe que marungos nunca procurariam ali, certo? Já adulta, minhas táticas evoluíram… ou não. Em uma visita à casa da minha cunhada na roça, durante uma apresentação de Folia de Reis, me tranquei no banheiro. Único banheiro. Da casa inteira. Precisei ser convencida a sair com promessas de bênção. A Bandeira foi passada sobre mim, e confesso: fiquei bem. Por um tempo. Hoje os arrepios voltaram.
Houve também a vez em que fiz minha amada avó Cida de escudo humano. Firme e forte (mentira, tremendo mais que vara verde), fiquei escondida atrás dela enquanto a Folia homenageava o Menino Jesus no presépio da sala. Campo do Meio, também aqui no sul das Minas Gerais, nunca viu tamanha devoção… e tamanho temor.
E teve meu momento de coragem como repórter da extinta TV Cidade. Decidi encarar a Folia de frente, microfone na mão e coração quase saindo pela boca. Coitado do meu colega cinegrafista! Cansou de repetir gravações porque o microfone insistia em tremer mais do que eu. Depois, como assessora da inesquecível prefeita Adriene, também precisei ir aos eventos. Chegava com uma hora de antecedência, não por profissionalismo, mas para “me preparar espiritualmente”. Foi nessa época que, ao ouvir um marungo me fazer um sonoro “Buuu!”, meu instinto falou mais alto: esmurrei o coitado. Desculpa, amigo mascarado, era a fobia agindo!
Agora, com o tradicional Encontro das Folias de Reis abrindo neste sábado (11) o calendário cultural da cidade, estou num dilema profissional. Cobrir o evento seria natural para mim, jornalista que sou. Mas e os marungos? Ah, os marungos! Será que me escondo atrás de um tripé de câmera ou sob o amplo palco na Praça Cônego Victor?
Entre o amor pela tradição e o pavor infantil que nunca me abandonou, sigo dividida. Quero ir, mas também quero apenas espiar por alguma janela…
Marungos, revelo mais: de todo o meu coração, eu admiro vocês. (Só de longe, tá? rsrsrs)
Brincadeiras (será mesmo?) à parte, verdadeiramente torço para que a determinação dos Reis Magos representada na alegria dos marungos, que a nobreza da sanfona e do pandeiro, que a força dos mestres e embaixadores se sobreponham ao desinteresse das novas gerações em seguir com esse que é, sem dúvida, um rico pedacinho da nossa humilde e tão bela história!
Vida é o que desejo para as nossas queridas Folias de Reis!
Estarei lá na Praça para aplaudi-las (eu sei que posso!)
(Com carinho, Arlene Brito)
Sintonize mais: 53º Encontro de Companhias de Reis de Três Pontas é neste sábado na Praça Cônego Victor