Como começar carreira em TI vindo de outras áreas
Saber valorizar a bagagem anterior é importante, mas não dá para começar sem saber nada.
O mercado de tecnologia da informação (TI) é promissor até para quem vem de outras áreas. E ali não é lugar só para os craques de matemática.
Os primeiros passos
Aprenda primeiro a base: o ideal é não sair por aí buscando vagas sem saber nada da área desejada. Mas partir de cara para uma especialização ou pós-graduação também pode ser desafiador: é mais tranquilo começar com cursos fundamentais para a área.
“Procurei uma pós de Big Data com ‘business inteligence’ e 98% dos alunos eram profissionais de ciência da computação, análise de sistema e áreas correlatas, eu era a única jornalista”, conta Isabela Marinho, que escolheu entrar para a área de dados em TI.
“Se eu tivesse conversado lá atrás, talvez tivesse buscado trilhas de conhecimento mais específicas e depois caminhado para a pós para ter um olhar mais macro, de negócios”, avalia. “Isso foi em 2017, quando existiam poucos cursos de especialização com uma mentalidade mais voltada aos negócios. As escolas ofereciam apenas um olhar técnico. Hoje há uma variedade de cursos para objetivos diferentes.”
Isabela atualmente trabalha no Google e ajuda outras pessoas a fazerem uma transição mais suave por meio de um canal no YouTube onde faz lives sobre o tema, promove workshops e destrincha fundamentos da área.
Onde encontrar vagas
Os cursos já serão uma oportunidade de, paralelamente, fazer contatos e até participar de seleções. Claro que vale ficar ligado nos anúncios de vagas, mas cuidado para não limitar sua busca.
Amplie o olhar: às vezes nem será o caso de mudar de empresa ou setor… Isso porque as oportunidades em TI não estão mais restritas a companhias de tecnologia em si.
Empresas e startups de varejo (Magazine Luiza, Casas Bahia), saúde (Sami, Alice, Dasa), pagamentos (AME, Neon, PicPay), finanças (Itaú, Bradesco, Santander, Nubank, C6bank, Empiricus), fabricantes de alimentos e bebidas (Ambev), entre várias outras, dão espaço para profissionais de tecnologia.
Lembra da Isabela, a jornalista que encarou uma pós sem saber o básico da área de dados? Na hora de procurar os primeiros empregos, ela decidiu continuar na área de comunicação e foi para agências de relações públicas e de publicidade e propaganda.
Participe de comunidades, grupos e fóruns: além de cursos, profissionais de TI costumam frequentar espaços on-line para trocar conhecimento e ter uma rede de contatos.
Converse com pessoas dos cursos que frequentar para saber quais são as principais comunidades para a sua área. Pesquise pelo nome da área em plataformas como LinkedIn, Discord, Medium…
Isso amplia sua visão sobre as áreas e faz você ficar sabendo de oportunidades. Na hora de preencher vagas, muitas empresas levam o famoso “q.i.” (de quem indica), ou seja, profissionais conhecidos dos próprios colaboradores — ainda que isso não seja uma regra, principalmente considerando a falta de mão de obra.
Em português ou inglês: empresas também podem anunciar vagas no Brasil usando nomes de cargos em inglês (ex: data analyst/analista de dados). Esteja atendo aos dois casos.
Siga empresas onde gostaria de trabalhar: muitas companhias anunciam suas vagas por meio de redes sociais, além das plataformas de recrutamento. Fique de olho nas marcas que você admira ou acha que seriam um bom lugar para trabalhar.
Cuide dos seus perfis: muitas empresas também buscam os candidatos de forma proativa em redes sociais. Caprichar na foto e manter as informações atualizadas aumenta até 21 vezes a visualização dos perfis no LinkedIn, por exemplo.
Como fazer seu perfil se destacar
Ajuste seus objetivos nas plataformas de vagas: não esqueça de atualizar seu perfil no LinkedIn e outros sites. Para quem está fazendo a transição, é importante restabelecer quais são seus cargos desejados e destacar suas novas qualificações, ainda que sejam acompanhadas do nível “estudante”.
Demonstre interesse em aprender: muito dinâmica, a área de tecnologia exige que os profissionais estejam sempre atualizados. Uma forma de fazer isso é realizando cursos e certificações em ferramentas mais populares do segmento escolhido.
Eles enriquecem seu currículo e os certificados podem ser colocados na seção Destaque do seu perfil no LinkedIn, por exemplo, junto com projetos que você desenvolver nesses cursos (via Github, Dashboard, etc).
Projetos tocados por conta: ter experiência com o desenvolvimento de projetos na sua nova área, mesmo que como um passatempo, pode ser a diferença entre um sim ou um não no primeiro emprego em tecnologia.
Como se preparar para entrevistas
A falta de experiência prática é um dos temores de quem muda de carreira. Não perca de vista tudo o que aprendeu na área anterior: este pode ser o seu diferencial.
“Busque, por meio das qualificações e experiências, tanto as vividas em âmbito profissional quanto em intercâmbios ou trabalhos voluntários, demonstrar como esses marcos têm a capacidade de agregar ao novo desafio”, orienta o diretor da consultoria Robert Half Caio Arnaes.
Vai começar de baixo sempre?
Quem pretende apostar em uma nova carreira em TI e já vem de um cargo pleno ou sênior provavelmente terá de lidar com uma redução salarial. Se preparar para esse fato e para o momento é importante, segundo os especialistas.
Carolina Coelho, de 33 anos, prestava serviços como arquiteta urbanista autônoma havia 7 anos quando decidiu dar uma guinada. Ela e o marido trocaram Belo Horizonte pela cidade de Gonçalves, no sul de Minas Gerais, atrás de uma vida mais saudável. E a mudança profissional veio na sequência.
Ela escolheu a área de designer de experiência do usuário ou UX, na sigla em inglês. Depois de três meses em um curso, conseguiu um estágio na área, com uma marca de maquiagens naturais.
Uma pessoa com experiência no mercado financeiro, por exemplo, pode ter esse trunfo na hora de migrar para uma startup de pagamentos, por exemplo. A depender da experiência do profissional, a mudança pode ser para um cargo melhor.
A vice-presidente de pessoas, dados e estratégia da fintech Neon, Juliana Yamada, é um desses casos. Formada em engenharia, ela fez um mestrado em economia e trabalhou em consultorias e gestoras de investimento antes de ser contratada pela startup em 2020.
“Eu não dei um passo para trás. Na verdade, dei um passo para frente porque a empresa enxergou que alguém com a minha bagagem poderia trazer estímulos diferentes para área de pessoas”, resume Juliana.