Mulher que atirou bebê em córrego em TP já cumpre prisão preventiva
Polícia Civil destaca apoio da população, de colegas em Pouso Alegre e da PRF
As investigações continuam a fim de esclarecer alguns pontos ainda obscuros no caso que chocou Três Pontas e região nesta semana. No entanto, não há dúvidas de que a mulher, de 23 anos, foi quem jogou o próprio filho recém-nascido em um córrego na região urbana do município.
Graças a um trabalho ágil, de equipe e de fundamental parceria da população, a Polícia Civil conseguiu impedir a fuga da mulher. Após a grande repercussão do acontecimento, ela embarcou às 8h30min desta segunda-feira (4) rumo a São Paulo, no entanto, o ônibus em que ela viajava, acompanhada da filha de apenas cinco anos, foi interceptado à tarde, pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Bragança Paulista (SP). Ela foi levada até à base da PRF em Pouso Alegre (MG). Uma equipe da PC de Três Pontas foi ao encontro da então suspeita que, no interrogatório, confessou o crime. A prisão preventiva já havia sido decretada e foi anunciada no final da oitiva, os procedimentos legais se cumpriram na Delegacia da PC em Pouso Alegre e a autora foi conduzida, neste primeiro momento, ao presídio de Santa Rita do Sapucaí, também interior de Minas.
Em coletiva de Imprensa, hoje (5), o delegado da Polícia Civil de Três Pontas, Dr. Gustavo Gomes, revelou que a mulher deu várias versões para o ato cruel. São sobre esses pontos contraditórios que as autoridades ainda buscam explicações.
Também na coletiva, a delegada Regional da Polícia Civil em Varginha, Dra. Renata Fernanda Gonçalves de Rezende, confirmou que o laudo pericial comprova que a criança nasceu com vida e que a morte não ocorreu pela queda ou afogamento – gerando outra interrogação na equipe investigadora: como ela foi morta? Dr. Gustavo Gomes completa informando que “asfixia” é uma possibilidade. Dependendo do que for apurado, o caso deixa de ser tratado como infanticídio, passando a homicídio. A ocultação de cadáver já é um crime certo no inquérito.
Está esclarecido ainda que o bebê foi arremessado no córrego na madrugada de quinta-feira (31), dentro de um saco plástico. Imagens de câmera de segurança mostram o momento exato em que a mãe descarta o filho, próximo à casa onde morava, na Avenida Oswaldo Cruz. Há provas concretas ainda de que a autora “levou uma vida normal, saindo e bebendo com amigos, se divertindo”, na certeza da impunidade. No entanto, o corpo da criança foi localizado e resgatado na manhã de domingo (3), já na Avenida “Zé Lagoa”. Para o delegado Dr. Gustavo, a tentativa de se deslocar para São Paulo sinaliza medo de encarar a Justiça.
No entendimento do investigador, Gustavo Felipe Domingos Campos, a mulher não esboçou arrependimento dando suas versões naturalmente. “Parece que foi uma coisa calculada, só que ela não imaginava que o bebê seria encontrado e não imaginava que ia gerar essa repercussão imensa na cidade e no estado. Diante disso, ela começou a procurar alternativas para se isentar da culpa”, analisa. Ainda segundo o investigador, ela expressou certa tensão em relação a um possível cumprimento de pena. Exatamente como a autora relata em conversa com amiga por aplicativo, material que circula por redes sociais na cidade. No bate-papo, a mulher descreve o único temor: “ser morta no presídio”.
O escrivão Stéfany Assunção e demais autoridades presentes na coletiva afirmaram que a ajuda da população foi crucial para o início e correto direcionamento da investigação. Também destacaram o valor do cooperativismo. A equipe assegura que colegas da PC e da PRF fizeram brilhante trabalho de apoio. A delegada, Dra. Renata, inclui o empenho e a competência da PC de Três Pontas, como fato gerador de credibilidade, consequentemente, do atendimento às solicitações a órgãos parceiros neste caso, tais como, o pedido de interceptação feito, e prontamente atendido pela PRF.
Na conversa com os jornalistas, as autoridades também lamentaram o ocorrido. “A mulher teve oportunidade de procurar um auxílio médico, fazer um pré-natal mesmo com o descobrimento de uma gravidez tardia e não o fez”, observa a delegada Regional, Dra. Renata. “Mesmo ela tendo a criança em casa, no banheiro, se tivesse acionado o Samu, essa criança teria ressistido. Essa criança tinha expectativa de vida, nasceu em condições de sobreviver e não foi dada a ela essa oportunidade”, expressou Dr. Gustavo Gomes.
De acordo com as autoridades, a menina de cinco anos está sob os cuidados do bisavô. O pai do bebê morto está entre as pessoas que ainda serão ouvidas na investigação.
Resumo do caso segundo o apurado até o momento
Quarta-feira (30 de março de 2022)
- A mulher começa a sentir dores de parto. A gravidez, indesejada, teria sido escondida da família.
Quinta-feira (31 de março de 2022)
- A mulher dá luz no banheiro da casa onde morava. Nasce um menino de 1,7 quilo.
- Na madrugada, ela lança o bebê, dentro de um saco plástico, no córrego da Avenida Oswaldo Cruz.
- Como o córrego tem pouco volume de água, possivelmente o corpo fica preso em algum obstáculo.
Domingo (3 de abril de 2022)
- Saae realiza limpeza em compartimentos, aumentando volume de água no córrego. Saco plástico provavelmente se solta de obstáculo, corpinho sai e é levado pela correnteza.
- Pedestre avista o corpo do bebê descendo pelo ribeirão, já na Avenida “Zé Lagoa” e informa o policial militar Edward Naves, que estava de folga, após cumprir trabalho noturno. Imediatamente, o policial se desloca para o local e consegue remover o corpo. Comunicados, colegas da PM também passam a atuar no caso.
- Perícia da Polícia Civil é acionada e realiza trabalhos “in loco”.
- Corpo da criança é encaminhado ao IML de Varginha, e sepultado à tarde em Três Pontas como indigente.
- Polícia Civil começa a investigação.
Segunda-feira (4 de abril de 2022)
- 8h30min: a mulher embarca na Rodoviária de Três Pontas rumo a São Paulo.
- Por volta das 15 horas, PRF intercepta o ônibus em que ela viajava com a filha de cinco anos.
- Acusada é levada até à base da PRF em Pouso Alegre, onde presta depoimento à PC de Três Pontas. Confessa o crime.
- Recebe voz de prisão preventiva, e fica na Delegacia da PC em Pouso Alegre.
- É transferida para o presídio de Santa Rita do Sapucaí.
- Polícia Civil de Três Pontas segue investigando o caso para fechar o inquérito dentro dos próximos dias.