Vereador acusado de racismo sai escoltado da Câmara de Três Pontas
Arlene Brito
O vereador Antônio Carlos de Lima (PSD-MG) deixou o prédio da Câmara Municipal de Três Pontas escoltado por dois policiais militares na noite de ontem (15). A proteção, no entanto, não livrou o legislador dos xingamentos vindos de manifestantes. Ao sair, Antônio “do Lázaro” abraçou familiares e pegou carona com o colega de trabalho Donizetti Benício Baldansi (PSL), deixando o local rapidamente, mas ainda ouvindo a revolta dos cidadãos. O vereador é acusado de racismo.
À tarde, um grupo partiu do residencial Jardim das Esmeraldas e seguiu até a Câmara, passando pelo centro da cidade, em protesto. Durante toda a reunião dos parlamentares, o silêncio do público exigido no Regimento Interno foi quebrado. Músicas em defesa da raça negra, palavras de ordem contra Antônio “do Lázaro”, gritos desfavoráveis a outros vereadores e à atual Administração liderada pelo prefeito Luiz Roberto Laurindo Dias (PSD) predominaram. Por várias vezes, o vice-presidente da Casa, Benício Baldansi, que presidia a sessão, exigiu que as manifestações fossem silenciosas. Foi atendido por alguns momentos.
Um dos organizadores do protesto, o presidente da Associação de Moradores do Bairro Jardim das Esmeraldas, Willian Moreira Cardoso, explica que a intenção é mostrar ao vereador e a toda população trespontana que “o fato não foi esquecido e que a vítima tem apoio na luta que começou a travar contra a atitude desrespeitosa”. A passeata, frisou, foi uma forma de repúdio. “O que esse vereador fez é quebra de decoro e envergonha. Ele, como representante do povo, como autoridade que detém o poder que emana do povo, deveria dar bons exemplos”, completa.
Willian justificou que se envolveu no movimento já que Antônio “do Lázaro” teria se voltado contra uma moradora da localidade que recentemente depositou nele, Willian, a credibilidade da liderança. “A denúncia foi feita pela vítima dentro de toda legalidade. A quebra de decoro dá cassação de mandato. Agora, os vereadores aqui é que vão mostrar se estão do lado do povo ou do lado do preconceito. É inadmissível uma pessoa reincidente, que não é réu primário, que já foi condenado, que está sendo acusado pela segunda vez de situação semelhante continuar. Somos seres humanos e devemos ser tratados com igualdade, independente da condição social, da cor e do credo. Esta é a minha visão”, desabafou.
Sobre a condenação à qual Willian se refere, aconteceu em 2015. A Justiça exigiu de Antônio “do Lázaro” pagamento de indenização no valor de R$ 3 mil a uma servidora da Câmara por ele acusada de levar para casa presunto que deveria ser servido nos cafés do Poder Legislativo. A confusão aconteceu em 2011 e repercutiu negativamente em toda a região.
Adesão
Os vereadores Marlene Rosa Lima Oliveira (PDT), Luiz Flávio Floriano – “Flavão” (PSL), Roberto Donizetti Cardoso – “Robertinho” (PP), Geraldo José Prado – “Coelho” (PSD), Sérgio Eugênio Silva – “Serjão” (PPS) e Érik dos Reis Roberto (PSDB) se posicionaram no início da sessão. Todos eles defenderam o fim da discriminação e apoiaram a iniciativa dos manifestantes. Também foram unânimes em não citar diretamente o nome do colega legislador acusado.
Já no Grande Expediente, o secretário da Mesa Diretora, vereador Maycon Douglas Vitor Machado (PDT), reforçou a necessidade, já levantada pelo colega Sérgio, de exigir do prefeito Luiz Roberto a nomeação dos membros do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir). Maycon Machado, ao lado da vereadora Marlene, assina a autoria do Projeto que gerou a Lei Municipal.
Fora!
Em determinado instante, o organizador Willian Cardoso se alterou. O presidente em exercício Benício Baldansi pediu aos militares que retirassem o manifestante, porém, Willian saiu sem a necessidade da intervenção policial. Acalmado e convidado pelo vereador “Coelho” voltou ao Plenário de onde acompanhou, mais tranquilo, a reunião.
A acusação
Antônio “do Lázaro” é acusado de, no último dia 8, ter chamado pessoas que estavam no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de macacada e ofendido Vera Lúcia Valentim (45), a classificando como vagabunda.
Vera Valentim diz que não conhece o vereador e que nunca imaginou passar por uma situação dessas, ainda mais com um representante do povo. No dia, a Polícia Militar esteve no local e registrou o Boletim de Ocorrência.
Em rede social, recentemente, o vereador postou vídeo tentando explicar o “mal entendido” ocorrido enquanto ele acompanhava o filho em consulta no Caps. Antônio afirma ter sido, na ocasião, ofendido verbalmente.
Encerrada a sessão, o SintonizeAqui procurou por Antônio “do Lázaro”. Ele não quis comentar os acontecimentos.