Secretaria de Cultura explica porque Três Pontas não receberá etapa do Festival Nacional da Canção
Arlene Brito
A notícia que Três Pontas não sediará uma das etapas do 47º Festival Nacional da Canção (Fenac) caiu como uma bomba sobre dezenas de trespontanos que, em anos anteriores, tiraram duas noites para prestigiar a boa música popular brasileira e torcer pelos compositores, pelos intérpretes, pelos músicos que concorreram na fase local rumo ao cobiçado troféu “Lamartine Babo”.
Desagradou ainda àqueles que, durante duas manhãs e tardes, se reuniram em praças da cidade, inclusive levando crianças para ter contato com as mais diferentes artes trazidas pelo Festival Nacional da Cultura que ocorre paralelamente ao Fenac.
Também se tornou motivo de reclamação por parte de certos comerciantes. Na fase local 20 canções concorrem a quatro vagas para as semifinais. No total, 10 finalistas disputarão o título. Além dos produtores dos dois festivais, familiares e amigos dos classificados para a etapa chegam de incontáveis regiões do país e ocupam hotéis, pousadas; comem, bebem, enfim, consomem no município.
Para quem tem ligação mais íntima com a cultura da cidade, estar fora da rota do Fenac chega a ser perda de oportunidade de realizar um bom “marketing pessoal”. Três Pontas tem talento para a música, bastando citar Milton Nascimento e Wagner Tiso como filhos da terra. Ah e tem também “Quarteto Morena” e “Banda Marginália” – classificadas no Fenac 2017 e que contavam se apresentar para os conterrâneos. Nesta edição, foram mais de 2.000 canções inscritas de 24 estados brasileiros e de Portugal. E aqui tem muitos, muitos outros meninos e meninas – jovens e nem tão jovens assim – musicistas de primeira linha em vários estilos. Por ser diferenciado berço de artistas, Três Pontas é a única cidade do interior brasileiro citada na famosa “Bilboard”, revista americana especializada em música. Então, na opinião de muitos, deveria – enquanto recebe visitantes do Fenac – mostrar tamanha potencialidade.
Não vai, pelo menos neste ano por questões financeiras. De acordo com a secretária Dilma Messina, para receber a quarta etapa do Fenac nos dias 25 e 26 de agosto, a Prefeitura – através da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo – deveria desembolsar R$ 55.000,00.
Documentada, Dilma mostra que R$ 2.174.060,00 é o orçamento previsto para a Secretaria para o exercício 2017. Porém, deste montante, sobram R$ 446.700,00 destinados à realização de eventos culturais e artísticos. É com este dinheiro que, conforme explica Messina, a Secretaria promoveu o carnaval, prestou homenagem às mães, arcou com as despesas do aniversário da cidade, levou o “Arte e Café” até o Distrito do Pontalete, fez Vesperatas e feiras de Artesanato, iniciou projetos culturais em bairros, reativou a Orquestra Municipal e que, além de sequenciar várias dessas atividades até dezembro, vai promover a comemoração do Natal. “Se nós aplicarmos R$ 55 mil nos dois dias do Fenac, as demais ações da Secretaria ficarão comprometidas”, completa Dilma Messina.
Afirmando que a “Secretaria executa seu orçamento e desenvolve suas ações com todas as formas de legalidade e transparência”, a secretária lembra que o orçamento 2017 foi elaborado pela Administração anterior, que tinha à frente o prefeito Paulo Luis Rabello (PPS). Então, apresenta as fatias que “herdou”. Segundo Messina, R$ 1.457.360,00 devem ser aplicados em despesas fixas (folha de pagamento, encargos, indenizações e restituições trabalhistas, água, luz, telefone, internet e outras). Outra parte, R$ 50.000,00 foi orçada para finalização de obras de bem patrimonial em consequência de Termo de Ajuste de Conduta com a Promotoria de Justiça. O restante, cerca de R$ 220.000,00, se destina à execução de convênios já assinados – são as chamadas verbas específicas ou carimbadas. A soma desses recursos totaliza R$ 1.727.360,00.
Ainda sobre questões financeiras, Dilma Messina destaca que, atendendo ao pedido do prefeito Luiz Roberto Laurindo Dias (PSD), todas as secretarias estão economizando ao máximo para que não falte orçamento para a folha de pagamento dos servidores no final do ano. Ela lembra que essa necessidade de corte de gastos foi exposta pelo Executivo em coletiva de imprensa realizada no dia 20 de junho e que o contingenciamento está, inclusive, em Decreto.
“Analisamos, sim, a possibilidade de realizarmos a etapa do Festival e por várias vezes a Secretaria de Cultura conversou com a equipe do Fenac deixando evidentes as dificuldades orçamentárias”, completa Dilma.
A secretária de Cultura garante que tem consciência da importância do Fenac e da valorização das manifestações culturais e artísticas, inclusive vindas de trespontanos. É enfática também ao manifestar pesar pelo cancelamento e finaliza dizendo que “maior que a vontade tem que ser a responsabilidade”.