Protetores suspeitam de esfaqueamento de cães de rua; pedem providências já que possível porte de objetos cortantes é também questão de segurança pública
Arlene Brito
Nos últimos dias, somente em uma clínica veterinária de Três Pontas foram atendidos cinco cães de rua com grandes cortes pelo corpo. No sábado (15), uma cadela de aproximadamente dois anos se tornou mais uma vítima. Ela chegou em uma oficina especializada em tratores, na Avenida Caio de Brito, por volta das 15h30min. Um dos proprietários da empresa conta que se assustou com o tamanho do ferimento e pediu ajuda para levar a cachorrinha até o médico veterinário. Dr. Gustavo Pieve foi quem prestou os socorros. “O corte era grande. Acredito que foram dados algo em torno de 40 pontos”, comenta. A cachorrinha, batizada de Chiquinha, se recupera sob os cuidados do mesmo dono da oficina e provavelmente será encaminhada para adoção assim que estiver completamente curada.
Num primeiro momento, a suspeita era a de que os cães poderiam estar se ferindo em brigas e até mesmo em arames, ainda comumente usados na cidade, sobretudo para limitar terrenos baldios. No entanto, à medida que voluntários começaram a observar melhor, perceberam que as lesões podem indicar agressões premeditadas. Alguns animais estão saindo com sequelas irreversíveis dessa, talvez, violência. É o caso de um macho já adulto que vive na Praça Cônego Victor. Ele perdeu o olho esquerdo, possivelmente após maus-tratos. Outro, que também mora no Centro, foi resgatado com um machucado bastante feio na pata, indicando uso de objeto cortante. Ainda no mesmo espaço, outro cão – que recebe cuidados de um artesão – também teria sido hostilizado.
Os casos se espalharam e foram registrados na região dos Quatis e nos bairros Antônio de Brito e Catumbi. Em frente ao Pronto Atendimento Municipal (PAM), testemunhas teriam chamado a Polícia quando presenciaram um cão sendo “esfaqueado”, pela segunda vez. O agressor teria fugido antes da chegada dos militares.
Alguns desses animais que foram gravemente feridos estão recolhidos em casas de protetores e são esses cidadãos que arcam com as despesas médico-veterinárias e de medicamentos. Dr. Gustavo Pieve tem sido um dos parceiros e auxilia nas ocorrências que chegam até ele promovendo descontos para quem se disponibiliza a salvar essas vidas, a aliviar o sofrimento das vítimas. “São animais de rua, mas merecem nosso carinho e respeito”, completa o veterinário.
Crueldade
Três Pontas enfrenta um grande problema em relação à população de cães de rua. Não bastasse o crescente abandono e reprodução, alguns perseguem carros, motos e bicicletas. Então, são acusados de mordeduras e quedas. O risco de novos acidentes existe. No entanto, nada justifica que esses animais se transformem em alvos de crueldade até mesmo porque, segundo adestradores, o comportamento pode ser consequência de medo. Os cães entendem que, perseguindo, afastam a ameaça e essa sensação motiva cada vez mais a conduta.
Para um grupo de protetores tem gente usando soco inglês, facas, chaves de fenda e outros objetos para golpear os cachorros que se aproximam. Cientes de que cães de rua causam certos transtornos, mas também conhecedores dos direitos que os animais possuem – como seres vivos que são – pede providências às autoridades. Uma das sugestões é que os agentes de trânsito realizem blitz para tentar flagrar algum condutor portando instrumento – até mesmo preso à panturrilha – capaz de provocar lesões. “É, inclusive, questão de segurança pública”, alerta a turma.
Chiquinha foi atropelada, afirma tutor
O rapaz que está cuidando de Chiquinha afirmou que ela foi atropelada. Ele soube que a cachorrinha iniciou a travessia da Avenida e, ao decidir voltar, chocou-se com a moto. O corte teria sido provocado pela corrente do veículo. Também teria ficado sabendo que Chiquinha não perseguiu a moto, mas que estava distraída e rodeada de outros cães.
Embora tenha sido um acidente, houve omissão de socorro. A cachorrinha chegou sozinha à oficina, conforme disse o proprietário, onde recebeu amparo. O tutor agradece a todos que se mobilizaram com o caso, auxiliando. Muita gente colaborou, inclusive com as despesas veterinárias que passaram dos R$ 500, exceto o condutor envolvido, segundo informações colhidas pelo Sintonizeaqui.