Padre Victor – Multidão devota toma conta das ruas de Três Pontas
Arlene Brito/Jessica Mesquita Silva
Segundo projeção da Polícia Militar, aproximadamente 60 mil pessoas aportaram em Três Pontas neste sábado (23), participando das comemorações do 112º Aniversário de Morte do Beato Padre Victor. O religioso nascido em Campanha (MG) foi pároco na cidade por 53 anos e caminha para se tornar o primeiro Santo negro do Brasil. O primeiro milagre atribuído à intercessão de Padre Victor foi confirmado pelo Vaticano. Assim, o Papa Francisco assinou o Decreto de Beatificação, cuja cerimônia foi realizada em Três Pontas no dia 14 de novembro de 2015. O fato histórico intensifica as manifestações de devoção. A multidão visitante é formada por gente de variadas faixas etárias que chega de romaria, de bicicleta, à cavalo, à pé percorrendo muitas vezes grandes distâncias em honra ao Beato. No dia da festa religiosa, a população flutuante chega a superar o número de habitantes do município: 57.097 moradores – conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Multidão toma conta das ruas de Três Pontas
Embora ainda falte a comprovação de mais um milagre para que Padre Victor seja oficialmente reconhecido como um Santo da Igreja Católica, os trespontanos e moradores de toda a região sul-mineira já o veneram como tal e estar na terra do homem que – segundo a biografia aprovada em Roma – ficou insepulto por três dias e ainda assim exalava perfume de seu corpo – é motivo de imensa alegria e ampliação da fé. Os devotos agradecem graças, fazem pedidos de cura e outras bênçãos e circulam por lugares onde Francisco de Paula Victor também esteve, uma “proximidade” que promove grande emoção.
Igreja onde estão os restos mortais de Pe.Victor
Dona Dislene dos Santos mora na região rural de Candeias (MG) e pelo segundo ano consecutivo participou da Festa. Afirmando admirar as virtudes de Padre Victor, ela organizou a romaria. Os mais de 40 lugares do ônibus fretado foram ocupados por familiares da devota. “Aqui é muito bom. Quem vem, volta sempre. Gostei de tudo: das missas, da imagem dele. Só acho que na Igreja seria bom um lugar para entrar e outro para sair porque ali tumultua”, sugere.
Acompanhando a mãe, Valdiene visitou o Memorial onde viu de perto vários objetos que pertenceram a Padre Victor: bíblias, castiçais, batinas, arreio, óculos, chaves da casa, a cruz usada em exorcismos – entre outras relíquias. “Achei bom. Senti algo diferente”, completa a jovem que herda o respeito ao “Santo Padre”.
Em Três Pontas, voluntários recebem os romeiros de maneira única. Os visitantes tomam um cafezinho com leite, acompanhado de pão com manteiga – ofertado na praça central. Para refrescar o dia – geralmente de temperaturas elevadas – tem água gelada, também gratuitamente, servida até na fila de visitação do túmulo do Beato localizado no interior da Matriz d’Ajuda. Por toda a cidade, devotos trespontanos em agradecimento a graças alcançadas por intermédio do Beato transformam suas casas em pontos de distribuição de lanches e refeições.
Doações da comunidade garantem o café dos romeiros
Seu Alfredo Caineli Sobrinho mora em Varginha, município vizinho das Três Pontas. Depois da missa, caminhou na longa fila para aproveitar a oferta na barraca do café. “Sou sempre muito bem tratado aqui. O pessoal é muito bacana. Nunca vi uma cidade tão maravilhosa como esta, especialmente neste dia sagrado para todos nós. Está tudo muito bom”, elogiou.
A multidão é formada democraticamente e a presença de jovens durante as celebrações cresce na mesma proporção da fama de santidade de Padre Victor. De Ilicínea, Marcos Henrique Vieira Costa, 19 anos, relatou que participa da Festa desde criança, portanto, percebe o crescimento de uma demanda: segurança. E ele tem razão. Os furtos, sobretudo de bolsas e carteiras, infelizmente são registrados apesar do policiamento ostensivo. Para Henrique, no entanto, se sobressaem as manifestações de fé, a união de paróquias em torno do dia do Beato considerada por ele muito interessante.
Feira de Artesanato está entre as opções para os turistas
Amigo de Henrique, Guilherme Gonçalves Vilela conta que desde os nove anos de idade comemora o Aniversário de Morte de Padre Victor. Hoje, aos 16, observa o encontro de culturas promovido pela fé. “Tem gente rica, tem gente pobre – todos em um lugar só, todos unidos em torno de única causa: louvar e agradecer a presença do Beato Padre Victor em nosso meio”.
Acólitos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Ilicínea, os jovens afirmam que procuram vivenciar tudo o que a cidade oferece no Dia do Beato: a parte religiosa, as atrações culturais, a feira dos camelôs. Guilherme observa, no entanto, que o estacionamento está cada vez mais complicado já que a população da cidade praticamente dobra nesta data.
Henrique e Guilherme: juventude presente
E quando se fala em cultura, quem conhece a história de Padre Victor sabe que o líder religioso fundou a Escola Sagrada Família e que a música estava entre suas predileções. Anualmente, ele recebe homenagens de folias de Reis e grupos de Congada, de Moçambique em retribuição às sementes que plantou e que germinaram espalhando bons frutos para toda a região.
Simone de Castro e Yasmin foram abordadas pelo Sintonizeaqui enquanto fixavam olhares para uma das companhias de Santos Reis. A avó, dona Florinda, segurava a bandeira com fervor. “O povo é hospitaleiro, é acolhedor, recebe a gente muito bem. Gosto da estrutura da cidade e das homenagens prestadas ao Padre Victor”, relata Simone. A família é da vizinha Elói Mendes e a simpática matriarca, dona Florinda, contou ter recebido a salvação de um filho, daí se tornou devota do “Anjo Tutelar” dos trespontanos.
Simone, Yasmin e a devota matriarca Florinda: família de fé
Indiara de Oliveira conheceu Três Pontas neste 23 de setembro integrando o Grupo de Congada Três Colinas. Capetinga (MG) e Franca (SP) são cidades de origem dos membros. “Padre Victor é muito conhecido em nossa comunidade e o pessoal tem grande devoção por ele”, destacou a capetinguense. O grupo fez apresentações no centro de Três Pontas, abrilhantando ainda mais o Aniversário.
Grupos folclóricos abrilhantam a Festa do Beato, entre eles o “Três Colinas”
Há poucos metros dali, na Praça do Centenário, a peça “Padre Victor: o Beato trespontano” foi encenada pelo Grupo Teatral Padre Victor. Talento, dedicação, boa vontade para retratar com a maior fidelidade possível os passos daquele que nasceu filho de escrava, que alfaiate manifestou o desejo do sacerdócio, que sofreu humilhações, que venceu barreiras, que conquistou corações e viveu na pobreza por tudo compartilhar, que pregou e vivenciou o mais puro amor ao seu Deus e ao seu povo.
Assim como a história de Padre Victor, o dia do Aniversário de Morte é cheio de delicados e expressivos detalhes, de superações, de entrega, de encontro de uma gente com sua própria fé e com seu intercessor. Devoção, arte, solidariedade, serviço… é sempre assim no Dia do Padre Victor, do benfeitor que, 112 anos após a sua morte, segue arrebanhando suas ovelhas…
Veja: Três Pontas comemora Aniversário de Nascimento do Beato Padre Victor