Orações e homenagens para os meninos desaparecidos em rio de Três Pontas; voluntário fala sobre dificuldades enfrentadas durante as buscas
Que os corações se acalmem e que todos tenham a certeza de que os esforços foram envolvidos por muito amor. Foi essa a mensagem passada ontem (9) pelo padre Roberto Donizetti de Carvalho aos familiares, amigos, voluntários que participaram de uma celebração em local próximo de onde João Piedro Gonçalves Amaral, de 11 anos e Henrique Daniel Fialho, de 17, perderam a vida, na região rural de Três Pontas.
A fatalidade aconteceu em uma tarde que deveria ter sido de pura alegria. No domingo, 15 de dezembro, os garotos participavam de uma das coisas que mais lhes traziam prazer: pescaria. Em determinado momento, João escorregou de um barranco, caiu nas águas do rio Verde e o primo tentou salvá-lo. Os dois submergiram e não foram mais vistos.
O afogamento foi presenciado por familiares que acompanhavam João e Henrique. Acionado, o Corpo de Bombeiros Militar de Varginha iniciou naquela mesma tarde uma operação de busca que durou 25 dias. Por todo esse período, a Corporação investiu esforços físicos, técnicos e tecnológicos. Equipes de mergulhadores, militares do Canil e a cadela farejadora Candy, o helicóptero Arcanjo foram recursos aplicados nas ações muito bem planejadas e executadas, apesar do resultado final.
A cada novo dia, voluntários foram ampliando o time que se esforçava para encontrar os primos. Um desses apoiadores é Sávio Martins. Criado na região, amante e estudioso da natureza, ele conhece bem certas características do Lago de Furnas por onde o rio Verde passa. Então, explica que a correnteza por lá é muito forte e que as águas são turvas com baixíssima ou nenhuma possibilidade de visibilidade – fatores que dificultaram a ação de mergulhadores do Corpo de Bombeiros.
A profundidade, conta Sávio Martins, atualmente com o nível da represa baixo, varia de 1 metro a dez metros no trecho de 40 quilômetros compreendido pela operação. A extensão vai do ponto do acidente até nas proximidades da popular “Ponte das Amoras” (municípios de Alfenas e Campos Gerais), passando pelo distrito trespontano do Pontalete e pela cidade de Fama. Além disso, a represa possui dezenas de “braços”, de igarapés por onde os corpos podem ter sido levados.
Ele revela ainda que há “milhares de ilhas de capins que pesam toneladas” e que, submersos, estão centenas de troncos de árvores e outros obstáculos que se formaram com a inundação de Furnas em um espaço antes habitado: restos de construções, de vias de transportes, cercas de arame, por exemplo. Nas margens há uma vegetação densa que, em alguns pontos, chegou a ser removida com ajuda de máquinas.
Sonar
Na operação foram usados guinchos e sonares. Somente Sávio Martins utilizou – em dois dias de ação – dois desses instrumentos fundamentais para a navegação, que funcionam como um radar. “Infelizmente, apesar de todos os esforços de todos os profissionais, de todas as pessoas envolvidas os corpos não foram localizados”, lamenta.
As buscas foram realizadas por mergulhadores, com embarcações e também por vias terrestre e aérea. Polícia Militar, Polícia Militar do Meio Ambiente, Anjos Socorristas, Samu, Prefeitura de Três Pontas e dezenas de pessoas também deram suporte nos longos dias em que familiares fixaram-se à margem da represa acompanhando de perto o trabalho, rezando pelo resgate de seus garotos. Solidários, conterrâneos doaram gasolina, refeições e, acima de tudo, emitiram gestos e palavras de conforto à família desolada.
Em comum acordo, o Corpo de Bombeiros e familiares decidiram encerrar na última quarta-feira (8) a procura diária por João e Henrique. Ficou acertado ainda que a busca pode ser retomada caso surjam indícios dos corpos.
Árvores para a eternidade
No local do acidente onde a família ia constantemente pescar, foram fixadas duas cruzes logo após a missa de ontem.
E também lá serão plantadas duas mudas de Jequitibá-Rosa, doadas por Sávio Martins. A espécie é uma das maiores árvores nativas do Brasil e a maior da Mata Atlântica, podendo atingir até 50 metros de altura. Há registros de exemplares com mais de 2 mil anos.
“Com essa singela homenagem, queremos eternizar a memória desses garotos que cresceram unidos, sempre muito amigos, companheiros e que partiram juntos numa fatalidade, mas também numa situação que evidenciou amor, preocupação, cuidado com o próximo”, registra Sávio Martins.
Entre os presentes na celebração religiosa, estavam o Major Mauro Martins da Silva e outros homens do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
O SintonizeAqui cumprimenta com pesar as famílias de João Piedro e Henrique Daniel. Aos pais, irmãos, avós, tios, primos – enfim, a todos o nosso respeito e nossos sentimentos.