Imediatismo X Veracidade
Por Mariana Tiso (Estagiária)
Edição Arlene Brito
O campo da comunicação vem sendo revolucionado no Brasil. Hoje em dia, os cidadãos estão se conscientizando sobre a informação, uma arma poderosa de protesto. A integridade dos veículos mediáticos e a linha tênue entre os limites da divulgação das informações desprovida de influências e a manipulação dos fatos em prol de uma linha editorial, são colocadas à prova de acordo com a maneira com que fazem a cobertura dos últimos acontecimentos.
Na segunda-feira, por volta das 19h20min, a foto de um barranco fechando uma estrada começou a circular pelo Aplicativo Whatsapp, com boatos de que seria a Rodovia MG-167 que liga Três Pontas a Varginha. Alguns meios informaram que a imagem e a notícia sobre a queda da barreira entre Três Pontas-Varginha tiveram origem em órgão oficial. Durante todo o dia choveu e houve alguns deslizamentos de barrancos e queda de árvores, mas nada que comprometesse a circulação na via. Porém, a imagem chegou a diversos meios de comunicação que a divulgaram, dando credibilidade a uma foto que foi tirada na tarde do dia 11 de outubro na BR-476, no Paraná.
O Sintonizeaqui entrou em campo para descobrir mais sobre o assunto que rendeu durante a noite de 23 de novembro, inclusive, afetando diretamente a vida de leitores que mantiveram contato com o Site pedindo esclarecimentos, pois acreditavam que não conseguiriam chegar até Três Pontas. Na checagem, a equipe se deparou com a denúncia de que a foto era de um fato ocorrido no Paraná. A informação partiu também de um internauta leitor e, logicamente, foi averiguada.
Os jornalistas são constantemente questionados quanto aos preceitos éticos de sua profissão. Em um momento em que existem milhares de fontes e de notícias é fundamental que se resguardem os pilares da comunicação: o compromisso com a verdade factual, apurada e investigada.
Segundo o Código de Ética do Jornalismo, o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange o direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação, é a base de toda a sua constituição. Sendo assim, os jornalistas não podem admitir que este direito seja impedido por nenhum tipo de interesse. A divulgação correta e precisa da notícia deve ser feita independente da natureza jurídica e da linha política dos proprietários do veículo midiático. As informações devem atender à veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público.
Em toda parte existe notícia, os meios de comunicação se esforçam, cada qual de sua maneira, para passar ao senso comum o retrato fiel dos fatos. Com o avanço da tecnologia e o acesso às informações de todo o mundo, ficou mais fácil descobrir as possíveis mentiras e condutas irresponsáveis da imprensa, facilitando, assim, uma maior cobrança do público para a realização de uma imprensa mais ética e verdadeira. Foi a partir da importância de debater a necessidade de mais responsabilidade no jornalismo atual que essa matéria foi desenvolvida.
O material noticioso está na mão da sociedade. As pessoas estão aprendendo a manipular a informação no conceito mais íntegro do vocábulo: o cidadão descobriu a força de sua palavra.
Esse movimento na sociedade fomenta a reflexão da profissão do jornalista. A principal característica deste profissional, e também o principal diferenciador do verdadeiro jornalismo para a simples divulgação de informações, é justamente a apuração dos fatos, o compromisso com a verdade. Se pensarmos que os protestantes estão se preocupando em registrar os atos através de fotografias, vídeos e gravações para montar uma base de dados na internet desprovida de qualquer interferência ideológica, isto significa que o jornalismo profissional não está atendendo ao que lhe foi proposto, uma vez que se estivesse, as pessoas identificariam sua própria realidade nos meios de comunicação. O povo está correndo atrás de apuração porque não se vê representado nas manchetes dos jornais. A convergência das mídias e seu imediatismo tornaram-se braço do ativismo social. Prometer a si mesmo e à população o compromisso com a verdade e ter que obrigatoriamente lapidá-la da maneira mais conveniente ao seu chefe vai além de todo e qualquer princípio ético do jornalista: é uma questão de caráter.
“…Por orgulho, soberba, vaidade ou ignorância, jornais e jornalistas procuram fazer de conta que só acertam. E, quando são pilhados em erros, custa-lhes admitir que erraram. Os jornalistas temem ser punidos por seus chefes. Os jornais temem perder leitores. Assim como não se deve brigar com a notícia, muito menos se deve brigar com o erro. Erro existe para ser confessado. Os leitores sabem que os jornalistas erram. E na maioria das vezes, estão dispostos a perdoar os erros – desde que admitidos. E desde que também não errem tanto quanto costumam errar”.
Para complementar a análise da credibilidade que a sociedade tem na imprensa atual e como esta está sendo avaliada pelos próprios profissionais, o Sintonizeaqui recorreu à especialista em Jornalismo – Gisele Nishyama.
Entrevista
Gisele Nishyama
Jornalista pela Federal de Viçosa (UFV), Especialista em Comunicação Empresarial, Marketing e Eventos. Mestrado em Administração com ênfase em Marketing
“Sou apaixonada pela profissão e atualmente focada na maravilhosa missão de Coordenar o Curso de Jornalismo no Grupo Unis-MG. Freelancer nas horas vagas e 24 horas online. Curiosa por natureza e com muita vontade de contribuir para o desenvolvimento de ótimos empreendedores e jornalistas que me renderão o orgulho da boa apuração”.
Gisele, qual é a importância de checar a notícia nos dias de hoje, quando as informações chegam das mais diversas fontes?
Em qualquer formato do jornalismo, a apuração clássica é de extrema importância para se evitar “barrigas” (matérias falsas ou erradas). Acredito que o grande erro tem sido a ânsia de dar o furo, a notícia em primeira mão, ainda mais com a facilidade e instantaneidade proporcionada por plataformas como a Web, Facebook, Twitter e Whatsapp. Elas aumentam a nossa responsabilidade com a informação. Não se pode acreditar em tudo, massificar acontecimentos irrefletidos, inclusive, se vier de fontes oficiais ou oficiosas. Elas são nossas referências, mas compostas por seres humanos, ou melhor, humanos seres como nós, que buscamos o acerto, mas erramos também e nesta hora não adianta ficar se culpando, pois já foi feito. É necessário preocupar em veicular a informação correta e fazer o nosso papel, com erratas e a mesma credibilidade de sempre.
Mas será que tudo que é veiculado pela imprensa diz somente a verdade ao público?
Em meus tempos de faculdade acreditava que tudo era relativo, que a verdade e a realidade eram algo que não sabia se existiam de fato, que dependia do que é a verdade para mim e para você, considerava até que vivíamos em uma espécie de Matrix (risos…). Mas ao ver uma bala perdida para lá e para cá durante o fazer jornalístico, ah… isto parecia bem real! As pessoas estão com a mania do absoluto, de levar tudo a “ferro e fogo”, estão com o hábito de ficar procurando erros até onde não tem e isto, de certa forma, nos desafia. Infelizmente nem tudo o que é veiculado pela imprensa é verdadeiro, assim como nem tudo é informação manipulada e “shownarlismo”. Novamente, não somos máquinas, e olha que até elas falham, por isso, a importância da checagem de informações e preocupação de ter o compromisso com a verdade e ética.
As mentiras pela audiência. No que isso prejudica o jornalismo e o leitor, internauta?
Acredito que não há prejuízos ao jornalismo, pois não considero jornalismo um veículo que vende mentiras em troca de audiência. Quanto aos leitores e internautas, dependerá do modo como interpretarão os fatos, para uns a mentira os alimentará positivamente, para outros ela poderá criar armadilhas bastante perigosas.
Você acredita que a sociedade sai da inércia à medida que, por exemplo, rebate uma matéria divulgada supostamente de forma errada como o caso da “barreira MG-167”?
Foi um fato que não enxergo tamanha relevância que construa um posicionamento mais atuante da sociedade. As pessoas falam de tudo e de nada ao mesmo tempo, criam uma cadeia de ataques somente para criticar. Procuram em cada comentário nosso uma deixa para competir até alguém dar o último grito. Aos leitores que se mostraram inconformados com a foto, nós achamos importante a manifestação de vocês, pedimos apenas respeito quanto ao trabalho jornalístico, pois muitos amigos que supostamente erraram, digo supostamente, pois ainda tenho algumas dúvidas a sanar quanto à procedência da foto, receberam-na de fonte oficial, deveriam ainda assim checar, sim, claro, mas já se manifestaram publicamente quanto ao que ocorreu e encontram-se chateados o bastante. Fica um alerta para todos nós quanto ao constante dever de apuração jornalística.
Você concorda que o material noticioso está na mão da sociedade, que as pessoas estão aprendendo a manipular a informação no conceito mais íntegro do vocábulo: o cidadão descobriu a força de sua palavra?
A sociedade possui várias ferramentas e bastante conteúdo noticioso, o uso que faz delas é o que a torna melhor ou pior. As crianças de hoje já nascem manipulando pais com a força de suas expressões e dominando a tecnologia. Descobrem desde cedo a força de sua palavra, todos, desde cedo, têm este poder transformador dos conteúdos disponíveis. O que falta é a sabedoria de sua melhor utilização, e agir ao invés de só falar também. Por exemplo, vejo várias pessoas compartilhando onde são os postos de doação de donativos que vão para Mariana, mas será que todos que compartilham fazem alguma doação?
Existe alguma punição para quem (jornalista ou cidadão, policial, bombeiro etc) divulga informações erradas ou mentirosas?
Além de autopunição, já que nenhum jornalista gosta quando acontece tal fato, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros possui algumas normas para a atuação profissional, portanto, dependendo da gravidade, se houver também difamação, calúnia, injúria, por exemplo, pode haver advertência ou expulsão, além de poder responder judicialmente.
Para você, a formação do jornalista é necessária para que se consiga evitar esse tipo de erro? É importante?
Com certeza, a formação é necessária, tanto no que se refira a conhecimentos de faculdade, quanto em sua preparação humanística, cultural e social. Toda a base que tiver e tudo o que aproveitar refletirá em um profissional de qualidade, que procure evitar erros e utilize-se de sua criatividade.
O jornalismo nos dias de hoje.
O jornalismo busca se reinventar dentro de uma caixa de madeira. Acredito que a solução para quem se encontra incomodado como eu, é procurar ter o seu próprio negócio. E não é devido à questão de censura, pois, como se faz censura em um país que nunca foi livre? Precisamos explorar a criatividade, compartilhar mais nossos conhecimentos, a Web 2.0 permite colaboração, por que não, então, tornarmos a nossa profissão mais colaborativa? Com uma produção conjunta dos mais diversos veículos, sob supervisão e compromisso de cada um?
(Fontes: http://www.gostodeler.com.br/materia/14993/codigo_de_tica_dos_jornalistas_x_constituicao_federal.html
http://observatoriodaimprensa.com.br/edicao/752/?c=caderno-da-cidadania
NOBLAT, 2002, p.40)