Filha Ilustre – Virgínia Veiga: 90 anos de pura vivacidade
Se você estivesse completando hoje 90 anos de vida, qual seria o sonho que gostaria de realizar até dezembro para fechar 2015 com chave de ouro?
Saltar de paraquedas. Este não é somente um desejo, mas uma meta para dona Virgínia Veiga Pereira. Tanto que, com a ajuda do neto Daniel, a aniversariante já organiza a viagem pela qual, indispensavelmente, ela quer passar pela experiência de ver a terra lá das alturas.
Coragem, determinação, persistência são apenas algumas características de uma verdadeira dama, nascida em Nepomuceno (MG), mas que ainda menina veio com a família morar em Três Pontas a fim de cursar o primário, grau limite para uma mulher que, aos olhos do pai, deveria mesmo ser educada para se transformar em esposa, mãe, dona de casa, ou seja, para as tarefas do lar. No grupo escolar tirou a maior nota, a Distinção, e ganhou uma bolsa de estudos. Poderia logo, logo se juntar às normalistas, mas seu José Veiga achou melhor não, era o conceito da época.
Então, dona Virgínia aprendeu as prendas domésticas. Aos 10 anos, mal alcançava o pedal, mas já costurava ao lado da mãe. Aos 23 anos, casou-se com Tarlei Pereira e teve a única filha, Mafalda, a quem transmitiu entre tantos ensinamentos o da bondade. Hoje são quatro netos e quatro bisnetos que podem contar com a matriarca ‘pro que der e vier’, além do estimado genro, Francisco. A casa está sempre impecável na limpeza e organização. A ajuda vem de uma faxineira a cada 15 dias. As roupas, ela mesma confecciona, lava e passa. Na cozinha, está sempre testando novidades, tais como, o cozido de banana verde que, garante, é excelente para a saúde. Além de exímia costureira – e os exemplos podem ser vistos nos próprios trajes – a senhora sabe administrar muito bem agulhas de bordado e crochê.
Inquieta, dona Virgínia foi além. Dotada de dom natural para o desenho, procurou por professores e agora domina os pincéis com os quais produz lindas peças em tela, tecido e até porcelana. O atelier de costura está passando por uma reforma e é lá que, a partir de agosto, ela pretende intensificar seus momentos dando formas às tintas.
Aos 90 anos, dona Virgínia mantém uma saúde de ferro e uma vivacidade contagiante. Cumpre os deveres de casa, permanece junto à família, mas também se doa a outros irmãos trespontanos. Religiosa e caridosa, é Presidente do Apostolado da Oração há quase 25 anos, integra a Pastoral Carcerária e o Grupo de Oblatas – parte da Congregação das Irmãs Beneditinas e ainda é confrade da Associação São Vicente de Paulo, responsável pela Vila Vicentina.
A trespontana ‘de coração’ é uma pessoa muito querida. “Tudo que me acontece, essa gratidão, me deixa feliz, sim, mas nunca faço nada pensando em recompensas, em reconhecimento”, comenta com humildade.
Abençoada, mas também cuidadosa com a saúde e aparência
Dona Virgínia conta que tanta força, saúde, inspiração, tanto amor à sua existência só podem ser presentes de Deus. Mas, embora reconheça ser uma pessoa iluminada, ela assume que faz a sua parte, cuidando diariamente do espírito, da mente e do corpo.
Manter o peso ideal por meio de alimentação saudável e, se preciso através de regime, é uma regra que ostenta em nome do bem estar e da qualidade de vida. E agora, a disciplina ganhou reforço. O neto Daniel – sim, aquele que vai com ela saltar de paraquedas – está se especializando em Geriatria e sempre dá dicas que a avó segue à risca. Na dieta, há mais de 20 anos, está o guaraná em pó e cogumelo da Irmã Dulce entre outros auxiliadores. “Não adianta experimentar uma semana, dois, três meses porque às vezes o efeito começará após um ano, então, tem que ter persistência”, fala e faz.
O exercício físico também é praticado desde a juventude. Segunda e quarta são dias de hidroginástica; terça e quinta são reservados ao pilates; sexta tem reiki e também na segunda, ela participa de oficina de memória. Mais recentemente aprendeu, então, após o almoço, pisa no freio e tira a soneca de meia hora.
Faz parte da rotina, se deitar às 23 e levantar às 5 e meia da manhã. Ao contrário da maioria dos idosos, dona Virgínia não toma remédios para dormir e, eventualmente se no meio da noite perde o sono, sai da cama para ler, escrever ou ouvir música. As orquestradas são as preferidas e quando piano e violino se sobressaem, aí sim, sente os ouvidos acarinhados. Para alegria da matriarca, a filha Mafalda se formou no Conservatório de Música e os netos também desenvolveram seus talentos na mesma arte.
Dona Virgínia tem sempre um livro às mãos e gosta de anotar mensagens que, imagina, um dia possam servir a ela, seus familiares, amigos. Augusto Cury está entre os autores mais lidos.
“Estou muito feliz. Tenho inúmeros afazeres, aproveito o tempo e, graças a Deus, dou conta de tudo. Meu perfil é este, mais ágil. Tem gente que é mais calma, é assim mesmo”, diz com muita naturalidade.
As viagens
Lazer. Tá aí outro item que dona Virgínia valoriza como meio de integração, ampliação do conhecimento e da cultura e para “que o elástico físico e psicológico não estique tanto a ponto de perder a capacidade de voltar ao normal, à sua forma original”.
Entre as diversões favoritas estão as viagens. Dona Virgínia conhece boa parte do mundo. Já foi, por exemplo, a Jerusalém e Índia, esteve nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Da América do Sul, faltavam Venezuela e Colômbia localidades visitadas no mais recente cruzeiro, realizado em março. O Brasil conhece de ponta a ponta, todos os Estados.
Se está em casa, o computador pode até servir de entretenimento, mas dele dona Virgínia está dando um tempo e as conversas ‘on line’ nunca substituíram um telefonema.
Comemorando por todo o mês
Dona Virgínia nasceu aos 16 dias de julho de 1925, data em que se comemora Nossa Senhora do Carmo. O pai, senhor José Veiga, era evangélico e optou pelo nome da sogra. Já a mãe de dona Virgínia se chamava Mafalda. Os irmãos Tereza e Milton residem, respectivamente, em Três Pontas e Ouro Branco (MG).
Nesta quinta-feira (16), ela receberá um presente bastante especial. Não haveria Missa na Matriz D’Ajuda, já que os líderes religiosos da Paróquia estarão reunidos no encerramento da Festa da Patrona do Carmelo São José. No entanto, Padre Roberto Donizetti de Carvalho, se prontificou a vir de Conceição do Rio Verde (MG) para que as orações na comunidade não passem em branco justamente no dia do aniversário de uma das suas mais atuantes voluntárias. Então, dona Virgínia convida a todos para a Missa, às 18h30min, na Igreja de Padre Victor. “Tenho certeza que será uma celebração muito concorrida porque, graças a Deus, tenho muitas amizades e o Padre Roberto é uma pessoa queridíssima em nossa Cidade”, registra.
No sábado (18) recepcionará cerca de 300 convidados, parentes vindos de sete estados brasileiros. Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e de diversas localidades de Minas. O almoço reserva grandes surpresas e muita animação. Segundo a aniversariante, haverá apresentação de números artísticos pela turma. Canto, dança, música e outras manifestações estão na programação.
Apaixonada por poesias, dona Virgínia escreveu uma especialmente para a data e aqui revela um segredo. Guardou tão bem que acabou perdendo. A confidência: detesta procurar coisas, então, antecipa – entre risos – não vai mais declamar. O gosto em ler e escrever versos, diz, herdou do pai que era um bom poeta.
E não para por aí. Já está marcada para agosto uma festa alusiva aos seus 90 anos. Ela irá comemorar ao lado das amigas Oblatas de Linhares (SP), Belo Horizonte, Varginha e Campos Gerais.
Os primeiros parabéns foram cantados dia 3, com Missa da qual participaram todos os membros do Apostolado da Oração. Depois, no domingo (5) durante a reunião do grupo, teve festa com as 54 zeladoras. Na quinta (9), viajou até a Comunidade Evangelizadora Magnificat, em Três Corações (MG), onde participou de Missa em Ação de Graças celebrada especialmente para ela por Padre Pepê. “Foi linda a Missa. Fiquei muito, muito feliz”, comenta. No sábado (11) mais comemoração, desta vez com as companheiras Oblatas e com integrantes da Pastoral Carcerária de Três Pontas.
Para fechar, na última segunda-feira do mês, dona Virgínia dividirá o bolo com os aniversariantes de julho e demais idosos da Vila Vicentina.
A finalização
“Sou muito feliz. Deus me deu e me dá forças para superar fases difíceis porque a nossa vida não é somente flores. A gente é quem transforma espinhos em rosas para poder sobreviver bem”.
Dona Virgínia é, sem dúvida, uma Filha Ilustre de Três Pontas. Pela disposição, pelo dinamismo, pelo envolvimento em trabalhos sociais. Ela faz aniversário e ganha o presente todo aquele que, por esta reportagem, entender o valor de estar bem consigo e com o próximo. Mais do que compreender, colocar pelo menos um de tantos exemplos em prática.