Exposição de Xilogravuras surpreende os visitantes
Sorridente e disposta a mostrar como são feitas as gravuras que decoravam aquele ambiente na noite de quinta-feira (23). Foi assim, com simpatia e simplicidade – que lhe são características – que Angélica Tiso recepcionou familiares e amigos na Adega, no Centro de Três Pontas, ontem à noite.
A trespontana é Técnica em Conservação e Restauro pela Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade – Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) – com aperfeiçoamento em Restauração e Conservação de Papel, Pintura de Cavalete e Imaginária. Foi ela quem realizou a “I Exposição de Xilogravuras: Ouro Preto, estandartes, religiosidade e fé”. Com a iniciativa, proporcionou aos conterrâneos conhecer um pouco do trabalho que vem executando com conhecimento, criatividade, ousadia, bravura e sensibilidade.
Casarios, fechaduras, lambrequins, igrejas, santos e até as ‘rendas de dona Efigênia Estela’ foram esboçados em chapas de madeira, depois cuidadosamente entalhados à goiva. As matrizes ganharam então as cores vindas em rolo de pintura. Com uma colher de pau, a artista massageou os papéis colocados sobre as madeiras tintadas e obteve as impressões. São muitas, sempre tendo como pano de fundo a cidade de Ouro Preto (MG), no entanto, sua Terra Natal também aparece nas obras que encantaram o público.
As Xilogravuras foram apresentadas ainda em estandartes, cuja técnica de impressão é um pouco diferente. A Gravadora usa os pés no lugar da colher de pau para estampar o tecido e obtém efeitos igualmente agradáveis.
Os cordéis completaram a Exposição, assinados por vários poetas de Pernambuco, onde há produção típica do gênero literário. “Fiz questão de trazer os folhetos porque a Xilo também está neles, principalmente, nas capas”, explicou Angélica Tiso.
Opiniões
“Angélica pulou sem medo na Xilo. O resultado é um trabalho forte, de traços incisivos e intensa expressão (…) E ainda – para meu orgulho de professor – muita cor, corajosamente trabalhada. E olha que não é fácil trabalhar a cor na gravura em madeira. Mas Angélica não se inibe, enfrenta e se sai muito bem com os matizes mais variados”.
As palavras são de Nello Rangel que foi Professor da artista, em Ouro Preto. Ele não veio, mas se responsabilizou pela apresentação da Gravadora, da Xilógrafa. “E é curioso como uma técnica tão forte, por vezes bruta até, pode casar-se tão perfeitamente com uma pessoa como Angélica, de índole doce, perfeitamente adequada ao nome que tem”, completou o Mestre.
Entre os convidados que prestigiaram a Exposição, estava Eric Rodrigues – formado em Arquivologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que hoje é responsável pelo arquivo de Ouro Preto. A presença do amigo, mencionado como o ‘filho do coração’, tornou a noite da artista ainda mais especial.
“Conhecia alguns trabalhos da Angélica feitos em metais com materiais reciclados e algumas esculturas. Não conhecia as obras dela em Xilo. Fiquei impressionado, principalmente porque não exibem apenas o preto, como é de costume, mas também outras cores; é um diferencial”, comentou.
Outro aspecto que chamou a atenção do visitante foi a quantidade de gravuras assinadas pela amiga em tão pouco tempo – entre a formação e a Exposição. “A Angélica já tem um trabalho muito bacana, muito forte, com suas próprias características, o que é difícil para o artista e em uma dimensão grande porque toda a produção artística é cansativa, exige do artista planejamento, energia e força”, observou.
Segundo Angélica Tiso foram 40 obras expostas entre gravuras, estandartes, quadros, canecas, porta copos, almofadas em Xilo.
Vicente de Paula Oliveira também compareceu para prestigiar a ex-aluna dos áureos tempos da Oficina de Artes e Ofícios Caminhos do Amanhã, em Três Pontas. “Um dia eu disse, ajudei a Angélica muito pouco, ela se fez por si só. Ela é uma pessoa que gosta das artes e cheia de determinação”.
Emocionado, Vicente desejou que Angélica siga explorando o dom, para ele, Divino. “Me sinto muito feliz em ver em Três Pontas essa arte marcante, esse trabalho que chama a atenção vindo de uma pessoa tão iluminada. A ela, parabéns”.
Muitos passaram pela Adega, conheceram as obras, registraram votos de sucesso, mas a primeira a chegar por lá, foi dona Vivina Tiso Fernandes. Aos 91 anos, a jovem senhora deixou o conforto de casa para incentivar a neta.
Simpática, de olhar e sorriso meigos, mas ao mesmo tempo desconfiada, disse ao Sintonizeaqui que achou “tudo muito lindo” e que enquanto for viva participará de tudo. Com certeza, um bom exemplo a ser seguido.
Atendendo a convites, Angélica Tiso se prepara para expor em outras localidades brasileiras. Talentosa, porém discreta e humilde, ela pouco… quase nada… comentou sobre isso, ainda.
À sua maneira, a artista vai conquistando espaços e compartilhando conhecimento. Neste sábado (25), por exemplo, ministra curso de Xilogravura no Ecoetrix Parquescola, em Varginha (MG).