Expedição iniciará levantamento arqueológico no “Quilombo do Cascalho” que fica na Serra de Três Pontas; Estudo poderá resultar em tombamento histórico da área
Nos próximos dias 4 e 5 de maio, uma equipe multidisciplinar visitará a Serra de Três Pontas, especialmente na região conhecida como “Quilombo do Cascalho”. Os voluntários darão início a um importante trabalho, mais um marco na história do município e de todo o Sul de Minas: o levantamento arqueológico no sítio. Vistoria da superfície, marcação de pontos com utilização do Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System – GPS) em locais que apresentem construções e estruturas aparentes, documentação fotográfica e cadastramento da área com ficha do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) estão entre as tarefas.
A expedição será coordenada pelos professores Luís Cláudio Pereira Symanski, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Marco Aurélio Leite Fontes, da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Participarão ainda discentes de graduação e de mestrado das duas universidades, representantes do Conselho Gestor Municipal de Área de Proteção Ambiental Serra de Três Pontas e do Conselho Municipal de Políticas de Igualdade Racial (Compir) Três Pontas.
O trespontano Tiago Henrique da Silva integra a equipe. Ele explica que o levantamento arqueológico consta em um Plano de Ação existente no Projeto Área de Proteção Ambiental Serra de Três Pontas (APA Serra de Três Pontas DCF/Ufla), criado em 2015 e do qual é coordenador. “A pesquisa acadêmica servirá para propormos alternativas eficazes para proteção e gestão da APA. Esperamos que ao longo do processo de levantamento arqueológico possamos encontrar vestígios da ocupação humana no ‘Quilombo do Cascalho’ de forma a inferir sobre o passado histórico em nossa região. De acordo com os dados levantados no livro ‘Proteção da Serra de Três Pontas’ existem muros de pedras ao sudoeste da Serra, e eles podem ser testemunhas da antiga ocupação”, comenta.
Ainda segundo Tiago Henrique, que é graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária (Ufla), a expectativa é que o estudo arqueológico leve à obtenção de maiores informações sobre a ocupação deste território pelos agrupamentos quilombolas proporcionando uma validação científica para o tombamento da área. Assim, a partir desta primeira expedição, será elaborado um cronograma de ações para as próximas visitas técnicas.
Encontros preliminares
Na sexta-feira (3), o professor Symanski ministrará palestra com o tema “Arqueologia da Diáspora Africana no Brasil. O evento, gratuito, acontecerá no anfiteatro DEX, na Ufla, com início previsto para às 18h30min.
Já no sábado (4), haverá uma reunião com o historiador trespontano Paulo Costa Campos, colaborador do Projeto APA Serra de Três Pontas. Na oportunidade, o professor apresentará à equipe multidisciplinar um pouco do seu conhecimento a respeito da história dos quilombos no município.
O Quilombo do Cascalho
Durante a primeira metade do século XIII, os primeiros viajantes, tropeiros e escravos fugidos passavam pela região e utilizavam uma montanha com um formato peculiar como ponto de referência. Esta montanha é a Serra de Três Pontas.
Em 1746 havia uma confederação denominada Quilombola do Campo Grande que chegou a ter uma população de 20 mil habitantes. Em meados de 1752 já incorporava 27 vilas tendo seu ponto central o Quilombo do Ambrósio, próximo ao município de Cristais.
Com a destruição da confederação, os escravos fugidos se espalharam por toda a região, e alguns deles se dirigiram para a Serra das Três Pontas, onde formaram o Quilombo do Cascalho. Pelo relato dos capitães Bartolomeu Bueno do Prado, Antônio Francisco França e outros, em setembro de 1760 uma incursão vinda da cidade de Lavras passou entre os rios Grande e Sapucaí a fim de exterminar quilombos e à procura de ouro. Quando passaram pelo Quilombo do Cascalho, relataram que o local estava abandonado.
A Serra e a APA: cronologia
Pela Lei Municipal nº 2.733, de 09/10/2006, a Serra de Três Pontas se tornou uma Área de Proteção Ambiental (APA). Culturalmente, a Serra teve seu esboço lançado pelo cantor Milton Nascimento, como marca de um dos movimentos mais emblemáticos da Música Popular Brasileira, o Clube da Esquina.
Em 2015, fruto do anseio da comunidade trespontana, formou-se uma equipe multidisciplinar com a participação voluntária dos membros na obtenção de dados para subsidiar o desenvolvimento de pesquisa acadêmica no município para propor alternativas eficazes para proteção e gestão da área, ação que foi sintetizada no livro “Proteção da Serra de Três Pontas”.
Em 03/08/2017 no Departamento de Ciências Florestais (DCF) da Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi realizada a primeira reunião, coordenada pelo discente Tiago Henrique da Silva, com representantes do Conselho Gestor Municipal de Área de Proteção Ambiental Serra de Três Pontas e membros da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Três Pontas para o desenvolvimento de um Plano de Ação em parceria para o “Levantamento de Fauna e Flora” e o “Levantamento Arqueológico do Sítio Histórico Quilombo do Cascalho”.
Deste período, até agora, o Projeto APA Serra de Três Pontas – orientado pelo professor Marco Aurélio Leite Fontes, vem se estruturando passo a passo e firmando parcerias com entidades, tais como a Agência Regional de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Grande (Arpa). Recentemente, com o foco no Levantamento Arqueológico do Quilombo do Cascalho o projeto passou a contar com a adesão e colaboração do professor adjunto do Departamento de Antropologia e Arqueologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFMG, Luís Cláudio Pereira Symanski.