Qualidade de Vida e Saúde para o trespontano

EXCLUSIVO: Município estuda alternativa para punir quem colocar saúde pública em risco ao deixar de combater o Mosquito da Dengue

Dengue evitar

Trespontanos sabem como evitar a multiplicação do mosquito transmissor, mas parte da comunidade não coloca informações em prática (Ilustrativa Net)

Os trespontanos têm acesso às informações, portanto, conhecem como combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da Dengue e de duas novas doenças que atualmente assustam e causam vítimas pelo País, a Chikungunya e a Zika – que está associada a vários casos de  Microcefalia, um agravo à saúde que poderá colocar em risco o desenvolvimento normal  e saudável de centenas de crianças brasileiras.

Mesmo sabendo que, para afastar o mosquito e as ameaças à saúde, basta evitar água parada, boa parte da população não segue as orientações, cansativamente propagadas pela imprensa e pelos Agentes de Endemias. É para essa parcela da comunidade que, pelo descuido, coloca a saúde pública em vulnerabilidade, que o Município – por intermédio da Vigilância Ambiental – elabora um plano que deverá punir quem não seguir as medidas de prevenção.

De acordo com o Médico Veterinário da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Marcelo de Figueiredo Gomes, a intenção é coibir situações que trazem risco, induzindo quem “não está nem aí para a Dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti” a também fazer a sua parte.

Dengue Médico Veterinário Vigilância Ambiental Secretaria Saúde Três Pontas 1 (Copy)Entrevista
Marcelo de Figueiredo Gomes
Médico Veterinário da Secretaria Municipal de Saúde de Três Pontas 

Marcelo, a época está propícia à proliferação do Aedes aegytpi, já que temos calor e dias chuvosos. Essa combinação climática exige atenção redobrada no sentido de prevenção, correto?

Com certeza. Ao longo do tempo, os casos de Dengue têm sido notificados normalmente a partir de janeiro e fevereiro e com grande acúmulo de casos em março, abril e maio. Este ano, estamos vivendo uma situação de antecipação desse problema. Em novembro, tivemos oito notificações, com três casos positivos de Dengue confirmados.

O clima está favorecendo muito a multiplicação do mosquito Aedes aegypti. Nesta última semana, recebemos uma quantidade grande de telefonemas dos cidadãos informando a presença de muitos mosquitos em suas residências. Observamos que a população desse mosquito aumentou rapidamente e isso, com certeza, traz um risco maior das pessoas contraírem o vírus da Dengue e agora com o agravante dos últimos dois tipos diferentes de vírus que chegaram recentemente ao Brasil.

Você se refere aos vírus da Chikungunya e Zika?

Sim, me refiro a essas doenças que são ainda muito novas. Os vírus são provenientes da África e ainda se conhece muito pouco sobre eles. A verdade é que eles chegaram ao Brasil e estão cada vez mais próximos da nossa região. Já existem casos confirmados de Zika em cidades próximas de Três Pontas.

Mosquito da Dengue 1

Além da Dengue, Aedes aegypti faz vítimas transmitindo também a Chikungunya e Zika Vírus

O detalhe é que esses casos se referem a pessoas que contraíram o vírus em outras regiões do Brasil, portanto, não são casos autóctones, ou seja, ainda não existe a confirmação da circulação desse vírus em nosso meio ou próximo da nossa Cidade.

A Chikungunya e a Zika são doenças graves, tais como a Dengue, e impõem uma vigilância grande porque a população não teve contato prévio com esses vírus, ou seja, a imunidade da população é praticamente zero em relação a eles. Caso esses vírus comecem a circular no nosso Município, podemos ter um elevado número de casos dessas duas novas doenças.

De alguma maneira a comunidade trespontana se mostra preocupada com o surgimento desses males?

Olha, muitos trespontanos procuram informações aqui no Departamento de Vigilância Ambiental, principalmente, em relação ao Zika Vírus, até mesmo porque ele tem sido destaque nacional devido à associação do vírus ao surgimento de casos de Microcefalia. Os pesquisadores já confirmaram que esses casos de Microcefalia foram causados pelo Zika.

Como eu disse, a Zika é ainda muito nova e não sabemos exatamente qual é o grau de lesões que ela pode provocar na população. Com certeza, os trespontanos estão receosos, principalmente, as mulheres em fase fértil e que têm intenção de engravidar.

E qual a orientação do Departamento de Vigilância Ambiental nesses casos?

Servidores municipais e reeducandos do Presídio realizaram a limpeza

Mutirão de limpeza realizado pela Secretaria Municipal de Saúde com apoio do setor de Transportes e Obras neste ano em depósitos de lixo e recicláveis. Medida de combate à Dengue contou com autorização do Poder Judiciário

Combater o mosquito Aedes aegypti sempre foi uma prioridade no nosso trabalho porque a Dengue não é uma doença fácil de lidar. A Dengue é extremamente incômoda. Ela produz um desconforto intenso.

Além desse incômodo que chega até a traumatizar alguns pacientes, a Dengue tem também sua taxa de mortalidade. Em Três Pontas, durante a última epidemia registrada ainda este ano, tivemos duas mortes provocadas, comprovadamente, pelo vírus da Dengue.

A nossa atenção já era grande por causa da Dengue e agora, com esses dois novos vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, aumentou o grau de importância do combate ao mosquito.

Sem a adesão da população, sem que cada um tome conta do seu imóvel, os órgãos públicos envolvidos nas ações de prevenção – e o nosso aqui é o centro desse combate – não obtêm sucesso. Sem a adesão da população, o órgão público não consegue – mesmo fazendo todas as atividades preconizadas da maneira correta e se esforçando ao máximo – porque o alcance é limitado. É muito fácil para o mosquito se multiplicar no ambiente. A quantidade de água que ele precisa é muito pequena, então, depende realmente da atenção dos cidadãos.

Hoje em dia, temos um problema sério relacionado à cidadania. Temos um monte de gente agrupada em uma cidade, mas muito poucos cidadãos, então, essas doenças – com certeza – vão se instalar e teremos que aprender a conviver com elas, já que erradicá-las ainda é uma utopia.

Marcelo, quais as principais ações desenvolvidas pelo Município de combate ao Aedes aegypti, esse transmissor da Dengue, Chikungunya e Zika?

Das ações constantes do setor de Vigilância Ambiental, as visitas dos Agentes de Endemias nas casas é a mais importante, apesar de toda limitação que existe, por exemplo, o intervalo grande entre uma visita e outra. No entanto, o morador tem que entender que não é o agente quem vai garantir que não exista multiplicação do mosquito na residência dele. É o morador que precisa – o ano inteiro – estar atento e aplicar as medidas de prevenção.

Combate à Dengue Fumacê 1

Função do fumacê é bloquear a transmissão e, não, eliminar o Aedes aegypti (Foto: arquivo)

Para alguns cidadãos, o fumacê seria uma medida importante para evitar a proliferação do mosquito da Dengue. Isso faz sentido?

Nessa época, as pessoas ligam muito pedindo o fumacê. Acontece, porém, que o fumacê é o último recurso que a gente tem para tentar controlar uma situação de Dengue. Na verdade, essa atividade se chama Bloqueio de Casos Suspeitos de Dengue.

O objetivo do fumacê é bloquear a transmissão da Dengue de uma pessoa para outras. Nós só realizamos o fumacê quando oficialmente nos chega uma notificação, informando de um caso de uma pessoa que está com suspeita de estar com Dengue. Aí, fazemos o fumacê para que haja o bloqueio no entorno da moradia desta pessoa, ou seja, no quarteirão e nos imóveis situados do outro lado da rua, próximos desse quarteirão, que são imóveis que chamamos de espelho.

Não adianta as pessoas ligarem reclamando que existem muitos mosquitos da Dengue em suas casas e solicitando o fumacê porque ele não será realizado, já que a intenção do fumacê não é matar o mosquito, mas bloquear a transmissão.

Quem define que o fumacê é para bloqueio e não uma ação contínua de eliminação do mosquito?

Todas as atividades desenvolvidas no nosso setor são direcionadas dentro do Programa Nacional de Combate à Dengue. Todas as atividades são preconizadas, estão dentro de uma Legislação.

O fumacê, por exemplo, é feito dessa forma porque é a indicação técnica que vem do Ministério da Saúde.

Dengue Campanha 2015 Ministério da Saúde 1O Governo já está investindo na campanha que traz o tema “Se o mosquito da Dengue pode matar, ele não pode nascer”, mais uma vez convocando a população a não deixar água acumulada. Você não acha que as pessoas já sabem como evitar a multiplicação do Aedes aegypti? Você acha que esse investimento ainda é válido?

Eu acho que reforçar é sempre válido, mas o que a gente vem observando ao longo do tempo, é que as pessoas têm acesso à informação e que hoje ninguém desconhece o é que uma Dengue, que existe um mosquito que transmite essa doença, que a pessoa não deve deixar depósitos com água para a criação desse mosquito.

São informações repetidas ao longo dos anos e, mesmo assim, a gente percebe que boa parte da população não muda os seus hábitos, continua cometendo as mesmas falhas no que tange evitar depósitos com água que possam se transformar em criatórios do mosquito da Dengue.

Esse grupo de pessoas, infelizmente, somente com informação, com pedido dos Agentes de Endemias durante as visitas nas residências, não toma providências. Para esses casos, estamos elaborando medidas mais drásticas para tentar coibir algumas situações que trazem risco para o morador, riscos para a família dele, para os vizinhos, para a saúde pública.

Medidas mais drásticas?

Combate à Dengue 1

Campanha de Prevenção realizada pela SMS de Três Pontas; quem não colaborar na guerra contra o mosquito, poderá sofrer punições. Estratégia de cobrança efetiva está em andamento

Quando o Agente de Endemias faz visita a uma casa, está – em primeira mão – tomando conta, ajudando o morador da casa a evitar que ele e os vizinhos dele contraiam uma doença. Então, o Agente de Endemias é um aliado da população. Acontece, porém, que muitas vezes, a população não enxerga desse jeito. Em algumas visitas, o morador não dá a devida importância a esse Agente e, em outras, sequer atende às solicitações desse Agente para que ele resguarde a saúde desse morador.

Então, para esses casos, estamos pensando em uma nova atuação. Nós precisamos de punição, infelizmente. Antes disso, é informação, educação, solicitação, mas no momento que a gente percebe que não está havendo colaboração da pessoa, entende-se que não dá para trabalhar sem punição. Esta é, no nosso entendimento, a única maneira de induzir essa pessoa a tomar as atitudes devidas.

Estamos elaborando uma estratégia de como isso será feito, quais são nossas prioridades para que a gente comece um trabalho ordenado e sempre com a intenção não de punir, mas de induzir os moradores, os cidadãos a tomarem as providências necessárias para que se evite esse problema chamado Dengue, Chikungunya e Zika em nossa Cidade.

Marcelo, quais são hoje os pontos que demandam maior atenção por facilitarem a criação do mosquito Aedes aegypti em Três Pontas?

São quatro pontos que requerem muita atenção do setor de Vigilância Ambiental, da Prefeitura, da comunidade. O primeiro ponto são as bromélias. Temos na Cidade mais de 400 imóveis ornamentados com essa planta. Sabemos que as bromélias são criatórios naturais de mosquitos, inclusive da Dengue, tanto que elas estão descritas nas diretrizes de combate à Dengue.

Recentemente, em um programa da TV Globo, foi exibida uma reportagem feita com uma pesquisadora da Emater, afirmando que dificilmente as larvas da Dengue conseguem sobreviver na água acumulada nas bromélias. Ficamos surpresos com a declaração e achamos, inclusive, indevida.

Resolvemos, então, realizar uma pesquisa no nosso Município para levantarmos a real situação em relação às bromélias. Nós constatamos que 35% das amostras de larvas coletadas em bromélias eram positivas para Dengue. Confirmamos, aqui mesmo em nosso Município, que a informação da reportagem não procede e que as bromélias oferecem, sim, grande risco de criação de larvas do mosquito da Dengue.

A partir daí, demos início a uma campanha sistemática para informar a nossa população a respeito desse risco que os moradores correm quando cultivam as bromélias sem os devidos cuidados.

E quais são as recomendações?

Quem não faz questão da espécie deve procurar outras plantas. Mas se a pessoa gosta e quer ter bromélias, deve se informar muito bem a respeito do que pode fazer para mantê-las livres das larvas da Dengue.

Existem algumas recomendações que devem ser seguidas fielmente e, se a pessoa monitorar, ninguém a impedirá de ter as bromélias em seu jardim. A gente já vem passando para a comunidade, as medidas de controle e percebemos que as pessoas – ou não estão tomando essas medidas ou não estão tomando essas medidas de maneira eficiente. Pedimos muita atenção porque o risco é grande.

Qual seria, Marcelo, o segundo ponto?

Dengue Viveiro Café 7.jpg (Copy)

Foto de imóvel ao lado de um viveiro de café, em Três Pontas

O outro ponto é a presença dos viveiros de café na região urbana. Temos em torno de 30 viveiros aqui na Cidade e, neles, aproximadamente 270 caixas d’água, todas elas sem tampas. Em vários desses viveiros foram coletadas larvas do Aedes aegypti.

Até o momento, os Agentes de Endemias solicitaram a colaboração. A partir de agora vamos exigir que esses locais tomem os devidos cuidados, tampando todas essas caixas e higienizando-as de forma devida para que a gente tenha uma segurança maior.

Infelizmente, terá que deixar de ser um pedido e passar para exigência. Nós entendemos a necessidade dos viveiros, mas a saúde pública sempre estará em primeiro lugar e à medida em que oferecem algum risco, temos que exigir as medidas corretas.

Dengue Córrego Custodinho desaguando Ribeirão Araras 6.jpg (Copy)

Córrego Custodinho desaguando no Ribeirão Araras nas imediações do Bairro Peret

Terceiro ponto.

Custodinho. O Córrego apresenta vários pontos com problemas de conservação, possui várias reentrâncias, tem muita quantidade de lixo, portanto, é grande o risco de proliferação de vários mosquitos, inclusive, o Aedes aegypti.

O lixo acumulado é o problema mais grave nesse Córrego porque a limpeza implica numa série de questões que envolvem a interação de diversos órgãos. A população também tem o seu papel nesta situação porque precisamos aumentar a fiscalização, aumentar as informações e os pedidos para que a população não descarte materiais nessas águas que, aliás, são tão importantes para o nosso Município.  

Quarto.

SMS Continua Limpeza Contra a Dengue 4

Caixas d’água e outros reservatórios de água desprotegidos se tornam locais ideais para a proliferação do mosquito da Dengue, Chikungunya e Zika Vírus

Caixas d’água. Fizemos uma pesquisa e nos deparamos com muitas sem cobertura ou com cobertura inadequada. Como medida provisória foram colocadas redes de proteção que vieram do Estado. No entanto, os moradores foram informados que a medida era paliativa e que essa rede protegeria somente contra o mosquito. Mas, temos outros problemas com as caixas d’água destampadas, por exemplo, contaminação por fezes de pássaros, pombos e ratos. Portanto, caixas d’água destampadas são um risco para à saúde das pessoas, e, em relação à Dengue, com certeza, um depósito preferencial para a desova do mosquito.

Então, vamos começar a exercer uma vistoria mais rigorosa e começar a exigir dos proprietários as devidas providências ou poderão ser penalizados.

Considerações finais.

Dengue Rede Pluvial Bueiros Sujeira 1

Manter a Cidade limpa faz parte da responsabilidade do Poder Público, mas também de cada trespontano

Nós gostaríamos de pedir à população que colabore mais no sentido de exercer a cidadania. As pessoas ligam muito reclamando, mas elas também tomam pouca atitude a respeito, elas esperam sempre que o Poder Público faça tudo por elas. Acontece que o Poder Público também tem suas limitações. Então, o controle da Dengue envolve cidadania, envolve que os moradores de Três Pontas deixem de ser apenas moradores e se tornem verdadeiros cidadãos. Isso implica que cada pessoa tome conta da sua saúde e também da saúde da comunidade porque cada pessoa é responsável por isso.

Gostaríamos que as pessoas passassem a entender a visita do Agente de Endemias como uma aliada à saúde delas e de toda a comunidade porque os Agentes estão lá, nas casas, para zelar pela nossa saúde. O Agente tem que andar, tem metas de visitas para cumprir e não tem como ficar toda hora retornando, então, precisa da colaboração dos moradores para que o trabalho seja bem desenvolvido.

Esperamos que toda comunidade participe desse combate. Na questão lixo, por exemplo, é preciso melhorar a maneira de dispor os materiais inservíveis para coleta, respeitando horários. Os bueiros, ou seja, a rede pluvial, não é o lugar adequado para estes resíduos. Gostaríamos até de fazer um apelo aos comerciantes e a todas as pessoas que trabalham no Centro da Cidade, principalmente àquelas que trabalham com alimentos, para que estimulem os consumidores a descartarem os resíduos – guardanapos, latas, pet etc – nas lixeiras do estabelecimento do qual adquiriu o produto e, não, nas vias públicas.

 

Previous post

Papai Noel dos Correios espera entrega dos presentes à Central de Distribuição de Três Pontas até sexta-feira

Next post

Cãozinho desaparecido em Três Pontas