Especial – Tamanha generosidade faz de Nicola Pieve um Filho Ilustre de Três Pontas
Nicola Pieve é um trespontano comunicativo. Dono de um coração grandioso, esse palmeirense de 54 anos é muito conhecido na Cidade. Primeiro por trabalhar como Auxiliar de Escritório em uma empresa de destaque no segmento de combustíveis. Depois – ou talvez simultaneamente – pelo carinho e cuidado voltados aos animais de rua. Lá mesmo no serviço, ele zela por cães que são constantemente vítimas da maldade humana. Por onde anda, muitos outros se aproximam atraídos, quem sabe, pelo cheiro de sua bondade a esses seres que, define, “não têm maldade e só nos dão carinho”. Afirmando que “quem tem um animal é mais feliz”, Pieve diz ainda que respeita quem não tem a mesma afinidade, mas rejeita todas as formas de maus-tratos.
O que pouca gente sabe é que Nicola é também um exemplo vigoroso de humildade, de desprendimento e de compaixão. Quando voltou da paulista Guarulhos, isso há cerca de oito anos, atuou como voluntário na então Casa da Sopa, na Vila Marilena. E, desde 2013, todos os domingos ele chega bem cedinho – às 5 e meia da manhã – à Vila São Vicente de Paulo, disposto a ajudar no que for necessário. Lava banheiros, limpa o chão. Ajuda a servir o café, a dar banho, secar, colocar roupas nos velhinhos. Lava louças e elas são muitas, sempre. Bate papo com os idosos levando até eles informações do mundo aqui fora. Então, fala dos campeonatos de futebol, do comércio, do preço da saca de café. “Muitos são lúcidos e eles passam a semana toda reproduzindo o que a gente conversa”, conta. Volta para casa por volta das 13 horas satisfeito ao entender que um gesto simples leva ocupação a várias mentes.
De tempos pra cá, Nicola inovou. Em passeios pelas proximidades da instituição, ele insere na comunidade algumas “meninas” da Vila. Elas se divertem vendo e conversando com pessoas que vão às academias das praças e até se refrescam em sombras do Trespontano Olímpico Clube. A pé ou conduzidas em cadeiras de rodas, lá vão elas para a caminhada dominical – momento de paz, de alegria, de se sentirem mais amadas e partes de um todo. “Se tivesse mais gente para ajudar, eu poderia levar outros idosos para essa voltinha que, para eles, é plena felicidade”, convoca Pieve.
É pouco. Isso mesmo! Na convicção desse cidadão trespontano apenas uma manhã se doando ao próximo é insuficiente. Por isso, ele vive em busca de novas oportunidades. Certa vez, bateu à porta do Hospital São Francisco de Assis, oferecendo seus préstimos para atividades que quase ninguém deseja: a limpeza dos sanitários e do imenso pátio, por exemplo. Soube da burocracia em torno do ambiente e nunca foi procurado pela Provedoria. Ainda assim, lá está Nicola. Gratuitamente, ele passa noites com enfermos que não possuem acompanhantes ou substitui familiares que precisam de um descanso. Lá vai ele, todo satisfeito… logo para o noturno, período que, para a grande maioria, é insuportável em qualquer hospital do planeta.
“Sim, eu sou feliz”, garante Pieve. “Cada ação voluntária é gratificante. A sensação de ajudar é melhor que receber um presente. A gente leva o que a gente planta. Dinheiro, imóveis, enfim, bens materiais ficam aqui”, ensina o homem, um Filho Ilustre de Três Pontas – terra de gente solidária e de fé.
E por falar em crença, Nicola revela acreditar que a vida tem sequência após a morte. Mas, diante da imprevisível hora da partida, frente à inevitável separação terrena ele aconselha amar agora, respeitar agora, declarar os bons sentimentos agora, estender a mão e fazer o bem agora, compartilhar – porque há muitos carentes por todo o Município – mas repartir nesse momento. Jamais adiar. Falta de tempo: para Pieve é desculpa. Projetar ser ganhador da ‘mega sena’ para iniciar a colaboração: outra justificativa que, aos olhos desse homem, afasta o privilégio de se tornar um ser humano melhor. E completa: “para o serviço voluntário não é preciso gastar um centavo sequer, basta um tempinho e isso, querendo, a gente tem. Chorar em um velório… ah, tarde demais”.
Lá em Guarulhos, Nicola Pieve experimentou o doce sabor de ajudar o próximo realizando campanhas que amenizavam os efeitos do inverno sobre moradores de rua. Hoje, se doa aos idosos da Vila Vicentina e aos enfermos. Um passado, um presente proveitosos que trazem novas projeções. Esse Filho Ilustre de Três Pontas tem planos, muitos planos. Quer ajudar a dar mais vida à Vila, arrecadando tintas coloridas e convencendo mão-de-obra também solidária. Quer recomeçar a distribuição de refeição aos pobres em entidade desativada. Quer adentrar em instituição que cuida de pessoas com deficiência para “fazer o serviço mais duro, aquele que todos rejeitam ou só realizam por obrigação”.
E ele sonha… idealiza a chegada de mais e mais voluntários à Vila para que novas ações de lazer, de ocupação física e mental possam ser implementadas. Imagina familiares perdoando e descobrindo – ainda em tempo – que aqueles homens e mulheres de idades tão avançadas perderam a serventia, mas ainda são a essência: pessoas. “Todos são muito bem cuidados, mas a maioria é triste porque raramente ou nunca essa maioria recebe a visita de um ente querido, de um filho, de um neto, de um irmão”, retrata a dura realidade.
Nicola Pieve continua batendo às portas, ofertando seus trabalhos voluntários, sua boa vontade. Enquanto aguarda a ampliação do espaço, ele cria condições de melhor servir ao seu semelhante. Certa vez festejou o aniversário e buscou moradores da Vila como principais convidados. No ano passado, pediu fraldas como presente, seguindo o exemplo de dona Maria do Carmo Lamaita Miranda. Levou tudo para a Vila. No próximo 11 de setembro fará o mesmo: pedirá, mas para doar aos necessitados.
E por aí ele vai… semeando rumo a bons frutos…
Que tantos outros “Nicolas” brotem desse solo sagrado das Três Pontas!