ESPECIAL Expocafé: expositores apontam falhas; Presidente da Epamig concorda que é preciso criar um modelo mais apropriado
O Presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Rui da Silva Verneque, disse o que vários expositores e outros participantes da 19ª edição da maior feira do agronegócio café do Brasil gostariam de ouvir. “Temos total interesse em manter a Expocafé em Três Pontas, naturalmente criando um modelo mais apropriado, mais facilitado para que possamos manter o evento com essa envergadura e para que ele continue crescendo e em destaque”. Para as melhorias, citou a importância do apoio dos parceiros: Universidade Federal de Lavras (Ufla), Prefeitura Municipal, Cocatrel, CEF e outros.
A aceitação por parte do Presidente da Epamig de que há necessidade de algumas mudanças na formulação da Expocafé foi registrada na manhã desta quarta-feira (8), durante a abertura oficial da edição, na Fazenda Experimental da Empresa de Pesquisa em Três Pontas, e casou com uma ideia apresentada em primeira mão pelo Sintonizeaqui. De acordo com expositores, se técnica e comercialização não receberem o mesmo tratamento, se a organização não se tornar mais maleável e se a estrutura não receber melhorias haverá declínio no número de empresas presentes e em pouco tempo a Expocafé estará fadada ao fracasso.
Verneque foi aplaudido ao anunciar que o evento cresceu 8% em relação ao ano passado, atraindo 155 empresas expositoras, que estão distribuídas em 210 estandes. A fim de ilustrar a grandiosidade do acontecimento, ele mencionou que são esperados R$ 200 milhões em negócios e que mais de 20 mil visitantes deverão passar pela Expocafé até sexta-feira (10) – dia do encerramento.
Por também reconhecerem a Expocafé como importante meio de geração de renda e de abertura de visibilidade para o mercado, empresários apontam falhas que, segundo eles, se acentuaram neste ano. A intenção, explicam, é mostrar onde há insatisfação para que correções possam ser concretizadas, consequentemente, a Expocafé fortalecida.
Na tarde de ontem (7), alguns expositores se reuniram no Auditório da Associação Comercial e Agroindustrial (Acai) e expuseram, entre outros, o seguinte.
A quem recorrer
Falta definição de atribuições específicas para cada um dos envolvidos na estruturação do evento.
Incompatibilidade
Atribuições passadas a pessoas ou empresas sem perfil da área sob a sua responsabilidade.
Ausência de maleabilidade
Proibição de entrada de mercadorias/produtos nos estandes a partir de domingo anterior ao início do evento (terça-feira para público específico/quarta-feira para público geral). Expositores contaram que tiveram imprevistos que impediram o cumprimento do agendamento e que precisaram de muita manobra para conseguir a permissão. Um desgaste, para eles, desnecessário.
Cobrança de credenciamento extra. Cada empresa tem o limite de 20 credenciais gratuitas. A partir disso, teriam sido cobrados R$ 10 por crachá. “O expositor paga pelo espaço, paga seguro do estande e paga credenciamento extra”.
Descaso
Expositores enviaram projetos/croquis e não obtiveram retorno se estavam ou não de acordo com as exigências.
Pedidos simples deixaram de ser atendidos.
Inconveniência
A falta de educação de alguns encarregados foi percebida até mesmo por visitantes que chegaram cedo à Expocafé nesta quarta-feira. Um exemplo: um senhor teria sido barrado no credenciamento por não possuir endereço de e-mail.
Falta de estrutura
Piso inadequado (sem brita, cascalho etc) e falta de maior cobertura. Grande parte da área ocupada pelos estandes e estacionamento ficou cheia de lama, devido às chuvas dos últimos dias.
Ausência de suporte e acesso para descarregamento de mercadorias e montagem dos estandes.
Operadora única de telefonia celular obriga expositores e público a aderir à mesma ou ficar sem comunicação.
Até a empresa que presta assistência à saúde como parceira da Expocafé, desde o dia 27 de maio, precisou “dar o seu jeitinho”. No caminho rumo ao ambulatório havia mato e pontas de árvores (tocos). A capina foi realizada por um funcionário da empresa. Para sair do estacionamento, a ambulância também encarou o lameiro.
Na avaliação de expositores e de certos líderes de classe – sendo vários deles também cafeicultores – os critérios adotados trouxeram descontentamento e até prejuízos. Embora tenha sido registrado crescimento da Expocafé, conforme relatou o Presidente da Epamig Rui Verneque, importantes companhias deixaram de vir.
Trespontanos concordam que cada um deve fazer a sua parte e sugerem que a propagação de pesquisas e técnicas seja coordenada pela Epamig e Ufla e que a gestão passe para uma empresa comercial, afinal, justificam, a Expocafé é difusora de ciência, mas também uma feira e, como tal, o aspecto comercial tem que ser valorizado.
“A Epamig pensa como órgão público e não comercialmente”. “O expositor paga caro para estar presente na feira, então, tem que ter o mínimo de conforto, de segurança”. “Os critérios não podem ser colocados boca a baixo”. “Não estamos pensando somente nas nossas empresas, mas também nos parceiros que estão deixando de participar e pensando ainda na população de Três Pontas porque a nossa terra respira café. Acho até que os trespontanos não prestigiam como deveriam, porque o evento é importante até para quem não produz café”, registram.
Também é unânime a opinião de que desvincular seria prejudicial para todos. Então, alertam, clamando: “ainda dá tempo de encontrar as alternativas e corrigir os problemas”.
UFLA estuda transferência da marca Expocafé para empresa privada
Na cerimônia de abertura, o Prefeito de Três Pontas Paulo Luis Rabello (PPS) pediu a privatização da marca Expocafé, defendendo que, assim, a realização do evento em solo trespontano estará garantida.
A resposta veio do Professor da Ufla, Luiz Gonzaga de Castro Junior. Ele explicou que a Expocafé foi criada há 19 anos pela Universidade e que a dificuldade de realização imposta pelos trâmites legais, de licitações, por exemplo, levou à cessão para a Epamig. Acontece, porém, de acordo com o Professor, que ficaram dois jurídicos (Ufla/Epamig), o que não facilitou, já que o trabalho está vinculado a uma instituição pública.
“Existe na Universidade a discussão de transferência da marca para uma instituição privada. Legalmente, a Ufla não pode doar, mas pode ceder. Se isso acontecer, a Universidade não sairá da Expocafé; continuará, mas em sua expertise, que é a pesquisa, a geração de conhecimento – e não na organização do evento”, registrou Gonzaga.
Expocafé fica em Três Pontas, assegura líder do Governo de Minas
Não há motivos para preocupação quanto à saída da Expocafé da “Capital Mundial do Café”, assegura liderança do Governo de Minas. O Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, João Cruz Reis Filho, disse: “a Expocafé criou raízes aqui e não tem porque tirar. O evento tem relevância, tanto é que chegou à 19ª edição, é uma oportunidade para o produtor, mesmo em momento econômico difícil”.
Ao discursar na abertura oficial da Expocafé 2016, o Secretário destacou que o agronegócio vai ajudar o Brasil a superar a crise econômica e que no segmento, o café é o principal produto. Citou que o segundo levantamento da Conab (maio/2016) aponta que o País terá uma safra de 49,7 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, acréscimo de 14,9% se comparado com a produção de 43,24 milhões de sacas obtidas no ciclo anterior. Em Minas, a produção deve pular de 22 milhões para 28 milhões de sacas.
Na oportunidade, ele afirmou que o Governo do Estado reconhece o valor da cafeicultura e do cooperativismo que, analisa, supera as imperfeições do mercado e dá sustentabilidade à atividade. Ainda se dirigindo ao Presidente da Cocatrel, Francisco Miranda de Figueiredo Filho, o Secretário pediu maior atenção para o Certifica Café. Explicou que o programa “dá reconhecimento internacional para o produto e permitirá à Cocatrel chegar com diferencial ao mercado exterior”.
O Secretário saudou a Rainha Expocafé Girl Coffee International 2016, Ana Luiza Rodrigues (Lavras) e as Princesas Bruna Rezende (Varginha) e Sharllenny de Bem (Machado) – eleitas sábado (4) em evento da Wofse Produções, dirigida pelo trespontano Willian Rosa. Cumprimentou a Cocatrel pelos 55 anos de atuação e convidou os presentes a participarem também da Semana Internacional do Café (SIC), de 21 a 23 de setembro, em Belo Horizonte.
Primeiro a pronunciar, o Presidente da Cocatrel havia pedido ao Secretário que se desdobre para que a Expocafé permaneça em Três Pontas onde, comparou, o café é a cabine da locomotiva e os demais setores e produtos, os vagões. “A crise chegou mais leve aqui no Sul de Minas porque temos o café, temos distribuição de riquezas e circulação de dinheiro. Somente Patrocínio e Monte Carmelo produzem mais do que Três Pontas, então, o café é a nossa vida. Nós precisamos da Expocafé aqui e contamos com o seu apoio”.
Em rápido discurso, Francisco Miranda falou sobre o aniversário de 55 anos da Cooperativa, destacando a produtora dona Henriqueta, que se dedica à cafeicultura há 60 anos. Também exaltou que nos dois anos que a Cocatrel esteve à frente da administração da Expocafé percebeu a deformação da área que recebe o evento. Então, contratou empresa especializada que nivelou o terreno. “Se não estamos atolados até o joelho é porque a Cocatrel realizou esse trabalho”.
Sobre a participação da Prefeitura na organização da Expocafé 2016 foi explicado ao Sintonizeaqui que a Administração colaborou, principalmente com mão de obra, atendendo às solicitações e às orientações da empresa realizadora.