Especial – “Eu recebi um… dois… milagres”
Por mais um ano seguido, Ângela Maria Ferreira Francisco se prepara para ser uma entre os inúmeros voluntários que no dia 23 de setembro, feriado em Três Pontas, vai trabalhar o dia todo, auxiliando os milhares de romeiros que aqui aportarem. O marido e as filhas com certeza vão também já que, a exemplo da professora, fazem questão de colaborar. Anfitriar com carinho e atenção, estender as mãos a tanta gente que vem de fora no Aniversário de Morte do Venerável estão entre as formas que a família encontrou para agradecer ao Anjo Tutelar dos trespontanos pelas graças que tem concedido às suas vidas.
A devoção, Ângela herdou ainda bem criança. “Minha mãe sempre falava das benfeitorias que ele deixou para nossa cidade e da fama de santidade de Padre Victor. A gente participava da Novena e ia aprendendo”, recorda. A fé colocada em prática acabou por, automaticamente, contagiar também a nova geração iniciada por ela e “Tem tem”.
Mais do que ensinamentos do lar, Ângela experimentou o poder de proteção do Vigário, morto em 1905. Aos 15, 16 anos ela já trabalhava. Era funcionária de uma padaria cujo dono também era e ainda é devoto de Padre Victor. “Um dia, sem explicação alguma, toda a prateleira que tinha um metro quadrado caiu nas minhas costas, rasgou o tecido do meu uniforme que era muito forte e eu não tive sequer um arranhão, absolutamente nada me aconteceu. Não pedi, mas recebi a graça”, testemunha. A devota lembra que em seguida caiu também um quadro de Padre Victor. “O vidro se espatifou, mas foto e moldura permaneceram intactas”.
O tempo passou, a fé não. Veio o casamento, veio a primeira filha. Por meses, a pequena Aline chorava horas seguidas. Uma dor de ouvido quase enlouquecia a menina e, claro, a mãe. Desesperada, Ângela tentou todos os recursos entre remédios comprados em farmácias e caseiros. Nada aliviava o sofrimento da criança.
“Um dia, naquele desespero, falei: se o Santo Padre Victor curar minha filha, vou colocar a melhor roupa dela, a que eu mais gosto aos pés dele, lá na Matriz”. Na mesma semana, Ângela assistiu à missa e com Aline nos braços cumpriu a promessa, sem ao menos receber o milagre. Recebeu depois do gesto concreto. “Minha filha tinha um ano de idade. Nunca mais sentiu dor. Em agosto, ela completou 32 anos e ainda se lembra do que passou, então dá para imaginar o quanto essa dor era forte”. Ângela afirma que ficou muito feliz e agradecida e que soube mais tarde que a roupinha havia sido doada a uma criança necessitada.
Mais recente, outra prova de que Padre Victor está sempre por perto da família. Ano passado, vindo de Contagem – região metropolitana de Belo Horizonte – o genro Glauco perdeu o controle da direção, bateu em uma árvore e caiu em um barranco de aproximadamente 40 metros. O carro teve perda total. O motorista fraturou o pulso e uma costela. Saiu sozinho do acidente e subiu a ribanceira até chegar à rodovia onde conseguiu socorro. Ele contou à Ângela que a única reação foi segurar uma foto do Padre Victor que possuía no veículo e pedir para que o Venerável não o deixasse morrer. “O Glauco sofreu um acidente gravíssimo e saiu praticamente intacto”.
Ir à Igreja construída pelo Vigário e rezar de frente para o túmulo e diante do Santíssimo é uma rotina da devota. A professora, hoje com 51 anos, não se cansa de agradecer e colocar nas mãos de Padre Victor tudo para que ele providencie o melhor.
Quanto à Festa que se aproxima, ela espera mais uma vez presenciar a manifestação de outros devotos. “Fico admirada porque a gente que mora aqui nem sempre mostra a nossa fé de forma tão grandiosa, ou seja, com sacrifícios, pés inchados e machucados das longas peregrinações, com a paciência de enfrentar uma fila que contorna praças para por um segundo passar em frente ao túmulo”. Para Ângela, é emocionante ver o pessoal persistir sob sol forte e falar sobre Padre Victor com tanto fervor.
Para encerrar, a professora destaca que Três Pontas é berço de pessoas importantes cujos nomes estão pelas ruas, avenidas e praças e a biografia é conhecida pelos historiadores. “Quem é conhecido popularmente?” questiona. E ela mesma responde. “Um homem negro, filho de escrava, que se tornou padre o que era impossível naquela época. Um homem humilde que, com fé, conduziu a nossa cidade e que despertou a fé no povo trespontano”.
No Comment