Especial – Apae de Três Pontas completa 43 anos
Bolo, guaraná, parabéns e votos de vida longa direcionados à aniversariante. Foi assim, em clima de festa, que diretoria, funcionários e usuários assistidos pela Apae de Três Pontas recordaram a fundação da instituição, há 43 anos completados no domingo (15).
E esta satisfação pode e deve ser sentida por toda a população trespontana. Isto porque a trajetória da Apae no Município é marcada por muito sacrifício, desafios diários, mas também por infinitas e constantes conquistas que refletem na melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência e suas famílias e que levaram a instituição a ser referenciada no programa Siga da Unidade Mineira da Universidade Corporativa da Rede Apae (Uniapae-MG), braço da Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais (Feapaes-MG).
Estruturas humana e física vão muito além do que se pode ver pelas grades da fachada
Quem passa pela Avenida Barão da Boa Esperança, diante do número 420, não tem noção da estrutura humana e física que está por trás da fachada da Apae que ainda preserva o Pequeno Príncipe, símbolo da entidade filantrópica fundada em 1972.
Hoje são 95 funcionários valorizados não apenas na remuneração, mas também por meio de constantes capacitações. Todos os cursos são multiplicados para os demais integrantes de toda a equipe.
Diariamente, são atendidas 520 pessoas especiais com seis refeições balanceadas com acompanhamento nutricional. Também fazem parte das atividades o atendimento clínico em psicologia, pedagogia, psiquiatria, pediatria, nutrição, fisioterapia, odontologia, neurologia, auxiliar de enfermagem, terapia ocupacional e fonoaudiologia.
A Educação também tem espaço na Apae. Neste ano foi implantada uma creche (Educação Infantil) e a aprendizagem segue pelo Ensino Fundamental Especializado e programa TEACCH (originário da Carolina do Norte/EUA – destinado aos autistas). A EJA (Educação de Jovens e Adultos – Inicial e Final) completa a grade curricular.
Fechando o tripé está o Serviço Social que inclui assistência às famílias e a Educação Profissional. Os deficientes participam de preparação, qualificação e colocação no mundo do trabalho, através de oficinas protegidas de produção, tais como, panos de prato, caixas decorativas, jato de areia, marcenaria, culinária, jardinagem e prestação de serviços na comunidade.
O número de atendimentos salta para aproximados 900 ao mês, considerando a extensão de serviços. Mensalmente são disponibilizados 300 procedimentos em reabilitação física (fisioterapia) para a comunidade e de 60 a 80 realizações de testes da Orelhinha, capazes de identificar precocemente deficiências auditivas. No Município, a Apae é única na realização do Teste que é feito a partir do segundo dia de vida.
Tanto trabalho exige organização administrativa e, claro, física. O setor clínico conta com 13 repartições, incluindo banheiros e almoxarifado. Além delas, 21 salas de aula, 2 laboratórios de informática com vários programas tecnológicos para comunicação alternativa, biblioteca, sala de artes, sala de jato de areia, marcenaria, sala de costura, sala de música, piscina, quadra poliesportiva, brinquedoteca, parque, horta, auditório, 2 cozinhas, lavanderia, rouparia, 10 banheiros, almoxarifados e secretaria/diretoria compõem a sede localizada em um terreno de 7.203 m² no Bairro Catumbi.
Mais recentemente dois outros ambientes foram criados e surpreendem os visitantes. No loft, uma sala de AVD (Atividade da Vida Diária), experiências tão simples para as pessoas “normais” – por exemplo lavar uma louça e estender a cama – são ensinadas aos deficientes na constante busca da instituição também pela autonomia deles, mesmo que limitada.
O outro espaço, a sala do Bem Viver, é tão útil quanto à sala AVD, mas tem propósito um pouco diferente. Oferecer comodidade e bem estar aos alunos que por algum motivo ainda permanecem na instituição mesmo que vencidas todas as etapas assistenciais.
Projeto trespontano recebe aprovação no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e promete ser exemplo para outras Apaes do Brasil
No quesito saúde, entre tantas conquistas, está o início – em 2013 – do PreAut Sul de Minas, aprovado pelo CEDCA (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente). Elaborado por uma equipe de psicólogas juntamente com a direção da Apae de Três Pontas, o projeto aplica o protocolo PreAut em bebês para a identificação precoce de sinais de sofrimentos mentais ou de traços do autismo.
Se houver a identificação, a criança começa imediatamente a receber o acompanhamento especializado. Isto proporciona ganhos para o desenvolvimento da criança e para uma inclusão mais adequada e próxima.
Na maioria dos casos, o autismo – por exemplo – é diagnosticado pelos médicos quando a criança atinge três, quatro anos de vida.
“Nestes 43 anos, a Apae passou por uma evolução realmente histórica e hoje consegue atender o deficiente conforme as suas reais necessidades. Isto para nós é um grande ganho, é tudo o que a gente sempre quis, ou seja, visualizar a necessidade real da pessoa com deficiência. Eu diria que estamos chegando à excelência do atendimento personalizado”, comenta a Diretora, Maria Rozilda Gama Reis, que há 23 anos atua na instituição.
Numa breve viagem pela memória, a Diretora enxerga o quanto as coisas mudaram ao longo do tempo e afirma que a sensibilização do Poder Público foi uma porta aberta à imensa melhoria nos trabalhos das Apaes. As instituições, analisa Rozilda Gama, são vistas como parceiras, dotadas de ‘Know-how e expertise’ para fazer o diferencial.
“A gente vive em treinamento e não se pode desprezar o conhecimento das pessoas que trabalham em instituições Apaeanas, não tem como dispensar esse recurso humano”, completa a Diretora.
Assistência à família também evolui
Envolver cada vez mais a família também é desafio diário. Antes, a assistência basicamente se limitava em cobrir necessidades do tipo alimentação, vestuário, medicamentos. O cenário agora é outro, totalmente modificado. Pais, irmãos de deficientes físicos e intelectuais também recebem atendimentos e acompanhamentos específicos e ainda são preparados semanalmente para o trabalho. Aqui, destaque para uma parceria firmada com o Rotary Club denominada Trabalho e Dignidade.
Hoje, mais de 40 alunos estão inseridos no mercado formal. “Lá atrás, esses meninos eram os entraves da sociedade, a família os escondia e agora se tornaram os mantenedores de suas casas. Essa mudança de conceito, o reconhecimento da sociedade no sentido de que o deficiente precisa de algo mais, de que ele precisa de oportunidades é uma coisa que não tem preço”, diz Rozilda Gama.
Na concepção da Diretora, as famílias deixam cada vez mais de ser descrentes quanto à evolução e se tornam um público mais presente, atuante, confiante no trabalho da Apae e na capacidade de cada um dos membros do lar.
Todas as ações, enfatiza, têm como meta atender às famílias em suas necessidades, mas também promovê-las.
Para o futuro, demandas trabalhadas desde já
Engana-se quem pensa que está bom. Nada disso. A equipe quer mais e conta com vários projetos em andamento junto ao Ministério da Saúde. Um deles terá os autistas como foco.
Segundo a Diretora Rozilda Gama, hoje os autistas têm um sistema de comunicação bem trabalhado, mas para o futuro – e com grandes chances de concretização em 2016 – cada aluno possuirá um tablet. Os aplicativos estimularão a concentração, chamarão a atenção para cores e animações, enfim, irão melhorar a comunicação e a aprendizagem em seus respectivos níveis – mediante o uso supervisionado da moderna tecnologia.
Outro convênio que está sendo trabalhado visa ampliar de 12 usuários por semana para 30 usuários por dia no setor de Equoterapia.
Na área de assistência social está em andamento um credenciamento junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelo qual a Apae prevê programas, projetos, benefícios e serviços – que, na verdade, já fazem parte do dia a dia da instituição através de oficinas e, entre outros, adaptações em residências de pessoas com deficiência física/intelectual.
Apae de Três Pontas vai se tornar um CER e referência para 120 mil habitantes
A Apae de Três Pontas também prepara sua entrada no CER (Centro Especializado em Reabilitação). Esta Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência foi instituída pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) e a inclusão da Apae no CER pactuada na Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde do Estado de Minas Gerais (CIBSUS/MG).
A competência da Apae local na área da saúde conduz a instituição à referência, consequentemente, ao atendimento também às cidades de Santana da Vargem, Coqueiral, Nepomuceno, Ilicínea e Boa Esperança que compõem a Microrregião de Saúde de Três Pontas.
“Os deficientes desses municípios terão a oportunidade de receber um atendimento de excelência aqui em nossa Cidade quanto à habilitação e reabilitação, deficiência intelectual e física e ostomia que é a área de órtese e prótese. Tudo isso vai nos exigir uma grande adaptação estrutural. É claro que isso nos assusta, mas estamos honrados e confiantes”, informa a Diretora.
A implantação deverá ser complementada até 2017. “A nossa proposta é continuar com a qualidade que também evolui junto com a história da instituição”, complementa.
Recursos financeiros ainda lideram lista de desafios
Se a Apae de Três Pontas está no topo no quesito referência não é à toa. Ao longo do tempo, muitas pessoas se desdobraram e ainda se desdobram em busca de novidades quanto a programas governamentais, tecnologias e, entre outras, conhecimento.
A capacitação dos profissionais – essencial para a instituição apresentar o diferencial, a implantação dos programas, a oferta de modernas tecnologias assistivas, a manutenção, enfim, todas as ações voltadas à estrutura humana e física da instituição envolvem dinheiro e a questão orçamentária ainda lidera a lista de desafios.
Para cobrir as despesas, a Apae conta com repasses, através de convênios, do Município, Estado e União e ainda com a boa vontade da comunidade, de empresas e organizações também atentas à responsabilidade social.
Entre os mais recentes auxílios estão 18 cadeiras de rodas que vieram através de convênio firmado com a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e na semana passada, a instituição foi contemplada com mais cadeiras de rodas específicas para cada usuário e ainda com materiais de construção que serão usados na ampliação e modernização da marcenaria. As doações são assinadas pela Pró-Vida.
As pessoas também ajudam com doações mensais de R$ 10 em carnê e concorrem mensalmente a cinco prêmios sorteados pela Loteria Federal. Outro meio de colaborar é através da conta de energia da Cemig com doação mínima de R$ 5.
Visando a arrecadação de fundos usados no pagamento do 13º salário dos funcionários, a Apae administra o estacionamento da Expocafé (maior evento do agronegócio café do Brasil, realizado em Três Pontas) e promove anualmente um Bingo com grande adesão de trespontanos e moradores de cidades vizinhas.
Segundo a Diretora, as despesas mensais variam de R$ 80 mil a R$ 100 mil, isto em época em que não há reformas na estrutura.
“Três Pontas é uma Cidade de providência. A Apae é muito grata porque nunca nos falta nada e nunca há de faltar porque o povo daqui tem um coração enorme e é corresponsável por 43 anos de sucesso desta instituição Apaexonante”, finaliza Rozilda Gama.
(Fotos acima: arquivo Apae Três Pontas)
Abaixo, alunos reunidos para a comemoração dos 43 anos da Apae de Três Pontas na tarde de segunda-feira (15).