Diretas já no Rio: a luta e a mobilização vão crescer ainda mais
Por Otávio Antunes, do Rio de Janeiro
(DCM)
As milhares de pessoas que compareceram à praia de Copacabana neste domingo frio e de rara neblina reforçaram o sentimento de que o governo Temer acabou, e que apenas eleições diretas podem reestabelecer a vontade popular e garantir legitimidade a um governo central.
É o jeito para o Brasil poder construir uma saída real para a crise política e econômica.
Por todo o dia uma verdadeira onda humana cantou, embalada por artistas como Caetano e Milton Nascimento, e gritou a plenos pulmões a cada intervalo, pedindo “Diretas já”.
Milton Nascimento, que reapareceu em atos políticos depois de algumas décadas, ainda nos lembrou que “todo artista tem que ir onde o povo está”. E o povo está nas ruas.
A praia estava colorida e ocupada por gente de todo o tipo. Gente como Paulo Gomes Oliveira, professor da rede pública que veio com a família toda, esposa e três filhos.
“Não temos nenhum dia a perder, agora é hora de o povo ser ouvido novamente, e o povo é ouvido preferencialmente pelo voto”, disse.
Em muitos momentos as músicas e o sentimento do povo se encontravam. Durante “Divino Maravilhoso”, entoada por Caetano Veloso e Maria Gaduh, a multidão se manifestou com ainda mais força.
“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, era o refrão repetido mais de uma vez pelo cantor.
Criolo e Mano Brown aqueceram a tarde carioca com raps clássicos e a energia de sempre. A cada música uma nova palavra de ordem. Um novo “papo reto”.
Foi de Rappin’ Hood, que dividiu o palco com Brown, uma das falas mais duras. “Apenas o povo pode colocar a casa em ordem. Quem tem medo do voto, afinal?”.
Os veteranos da música e da luta por democracia no Brasil, Caetano e Milton Nascimento, mas a cada intervalo entoavam “fora Temer” e “Diretas já”, como maestros embalando uma orquestra.
O Rio transbordou com força e vitalidade. Momentos especiais, como apenas a democracia é capaz de proporcionar.
O governo Temer, que acaba de substituir o ministro da justiça em uma tentativa de obstruir a investigação em curso contra si próprio, já cheirava a podre, vencido.
Depois de hoje, está completamente passado. Resta saber e acompanhar os próximos lances da disputa pelo poder do lado de lá. Organizações Globo, capital financeiro, o próprio Temer, os capos do Congresso Nacional e outros agentes disputam — quem vai impor o desmantelamento dos direitos trabalhistas e previdenciários conquistados a duras penas pelo povo brasileiro.
Não tem problema. Do lado de cá, a luta e a mobilização por diretas vão crescer ainda mais.