Dia Mundial da Doença de Alzheimer: conheça os avanços e os desafios da pesquisa desenvolvida na UNIFAL-MG que busca novos fármacos para o tratamento da demência
Celebra-se neste dia 21 de setembro, o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, uma iniciativa global que marca a necessidade de sensibilizar a população, as entidades públicas e privadas de saúde, bem como os profissionais da área, para essa doença. Com o fenômeno do envelhecimento da população, cientistas se dedicam a estudar diagnósticos que impeçam a manifestação da demência ou substâncias que possam atuar no seu tratamento. Na UNIFAL-MG, esse desafio mobiliza os estudos do grupo de pesquisa coordenado pelo pesquisador Cláudio Viegas Júnior, professor do Instituto de Química (IQ).
A pesquisa “Planejamento, Síntese e avaliação de novos candidatos a protótipos de fármacos, com perfil de ação multialvo contra a doença de Alzheimer” vem sendo realizada na Universidade desde 2006. Segundo o coordenador, a estratégia do estudo é baseada nas descobertas mais recentes que caracterizam a Doença de Alzheimer como uma doença crônica, de natureza inflamatória e degenerativa, cuja patogênese está relacionada ao desbalanço e mau funcionamento de diversas vias e funções bioquímicas e celulares concomitantemente.
“Os poucos fármacos aprovados e disponíveis no mercado não são eficazes no tratamento da doença, uma vez que não conseguem conter o avanço da doença e nem proporcionar a regulação dos diversos danos e desequilíbrios fisiológicos que a doença acarreta”, explica o pesquisador Cláudio Viegas Júnior. Segundo ele, esses argumentos explicam em parte, a ineficácia dos fármacos hoje disponíveis, o que justifica a necessidade de descoberta e desenvolvimento de novos fármacos, inovadores em seu modo de ação.
Em resposta a essa demanda da indústria farmacêutica, o grupo de pesquisa da UNIFAL-MG busca substâncias inovadoras a partir de estrutura química inédita, as quais possam ser eficazes de exercer múltiplos efeitos farmacológicos, podendo ser um modo de ação multiativo. Atualmente, são 13 pesquisadores envolvidos nessa descoberta, sendo um professor visitante, três pós-graduandos (dois doutorandos, uma mestranda) e oito graduandos dos cursos de Farmácia e de Química. Os estudos envolvem, ainda, dois Programas de Pós-Graduação da Universidade, o de Ciências Farmacêuticas e o de Química.
Os projetos individuais desenvolvidos no âmbito da pesquisa recebem incentivo de agências de fomento como FAPEMIG e CNPq, bem como apoio da Capes, que concede bolsas de pós-graduação. De acordo com o professor Cláudio Viegas, a pesquisa também conta com recursos do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UNIFAL-MG.
“Nossos projetos ligados à pesquisa em doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer, são desenvolvidos com a sede no Laboratório de Pesquisa em Química Medicinal, o PeQuiM, mas conta com a participação efetiva de uma rede de outros grupos na UNIFAL-MG, UFRJ, UFMG, UnB, LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e no exterior, como as Universidades de Bologna e Camerino (Itália), de Barcelona (Espanha), do Porto (Portugal) e de Adelaide (Austrália)”, revela o coordenador.
Avanços e desafios no desenvolvimento de pesquisa contra o Alzheimer no Brasil
Conforme o professor Cláudio Viegas, a pesquisa tem avançado muito na descoberta de moléculas que apresentam mecanismos de ação diversos. “Ao longo destes 15 anos de pesquisa temos avançado muito na descoberta de moléculas com baixa toxicidade e que têm demonstrado os perfis multiefeitos e multialvo desejados, sendo capazes de reverter o déficit de memória e aprendizado em modelos animais, além de mostrarem efeitos anti-neuroinflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores, com mecanismos de ação diversos”, explica.
A cada novo projeto, o grupo avança mais alguns passos na direção de moléculas com melhores características farmacológicas e de baixa toxicidade. “Todas as moléculas são inovadoras quanto à estrutura química e ao perfil de ação, condições necessárias à inovação e a um potencial interesse na indústria farmacêutica ou de órgãos governamentais para financiamento do desenvolvimento em fases pré-clínica e clínica”, detalha.
Para o pesquisador, embora haja avanços nos estudos que vêm sendo realizados, ainda falta conscientização no país, tanto da indústria farmacêutica quanto do setor público governamental quanto à gravidade da situação e à necessidade de investir em pesquisa na luta contra a doença. Isso impacta no andamento dos projetos, que sofrem para chegar aos níveis mais elevados de desenvolvimento.
“De um lado temos a indústria farmacêutica nacional estagnada numa situação de conforto dedicado ao desenvolvimento de genéricos e de alguma inovação incremental, não tendo manifestado, de fato, interesse em investir em projetos de inovação radical”, comenta. “Por outro lado, a falta de um projeto de Estado que privilegie o desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo o segmento da saúde, como estratégia de soberania e desenvolvimento nacionais, fazem com que os recursos e a infraestrutura necessária ao desenvolvimento de fármacos novos sejam praticamente inexistentes no Brasil”, desabafa.
No Brasil, são cerca de 1,2 milhão de pessoas a apresentarem alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. Conforme estimativas da Alzheimer’s Disease International (ADI), os números poderão chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, o que caracteriza a doença uma crise global de saúde que deve ser enfrentada.
Como pesquisa voltada para a descoberta de substâncias inovadoras do ponto de vista da forma de ação que se traduz no efeito terapêutico, os projetos da UNIFAL-MG têm potencial para o desenvolvimento farmacêutico, o que traria um valor inestimável à sociedade.
“Se uma dessas substâncias chegar ao desenvolvimento farmacêutico, certamente teremos algo novo em termos de eficácia e segurança, traduzido em avanços relevantes na qualidade de vida do paciente, que se não for a cura efetiva da doença, seja a recuperação mais duradoura de sua saúde, impedindo a progressão da doença e devolvendo ao indivíduo a sua autoestima, sua independência e sua capacidade de viver melhor física e intelectualmente, com impacto direto no seio familiar e na sociedade”, garante o professor Cláudio Viegas.
(Diretoria de Comunicação Social da Unifal-MG)