Corte de verbas e queda de jovens interessados no Enem: ensino superior demanda políticas melhores
A terceira onda de protestos contra os cortes de verbas para universidades levou às ruas das capitais milhares de pessoas no último dia 13. Segundo dados do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), já foram contingenciados até agosto mais de R$ 1,9 bilhões às instituições federais de ensino superior, o que tem levado muitas delas a publicarem comunicados oficiais, ressaltando o risco de não conseguirem concluir o ano letivo por falta de recursos e da consequente impossibilidade de cumprirem contratos com fornecedores de serviços básicos, como água e luz.
“Caso não surja nenhuma nova proposta de política indutora ao acesso ao ensino superior, daqui para frente o cenário será cada vez pior. Educação é bem social e precisa de políticas públicas claras. Se as mensagens forem de ainda mais desordem entre os poderes, sem uma linha indicativa de planos de estímulo à educação, os resultados podem ser mais catastróficos do que os já estimados”, afirma Cesar Silva, presidente da FAT (Fundação de Apoio à Tecnologia).
A educação nacional pede socorro. Se por um lado os recursos estão sendo drenados, o interesse dos jovens em cursar uma graduação também vem reduzindo. Números cadentes de inscritos no Enem denota a frustração dos alunos que terminam o ensino médio com as perspectivas de prosseguir estudos, ingressando no ensino superior.
Embora muitas ações do governo atual possam ter contribuído para agravar esta redução, com destaque para o questionamento ao Enem e trocas na liderança do Inep, a queda vem ocorrendo desde 2016. A redução acumulada de inscritos que miram o ensino superior é de 46,2% nos últimos quatro anos, caindo de 8,6 milhões para 5,1 milhões em 2019.
Outro fator importante que tem indicado a desmotivação do jovem ao acesso ao ensino superior é o número de contratos de novos alunos no sistema de financiamento estudantil público, o Fies. No auge do programa, em 2014, foram 733 mil novos contratos. Para 2019, a previsão é de apenas 100 mil vagas. As instituições particulares reagiram, ofertando modalidades de financiamento próprio, mas a base de alunos segue em queda.
Este é um indicador significativo de que a base de futuros matriculados pode cair de 40% (hipótese otimista) a 50% (hipótese pessimista) em relação aos matriculados no ensino superior em 2018.
“O ano de 2020 será de grande concorrência entre as instituições, que disputarão um número bem menor de interessados no ensino superior. Desde 2015, o setor cumula 67% de vagas ofertadas não preenchidas, ao passo que o número de polos cresceu 300% neste mesmo período”, destaca Silva.
(Compliance)