Comunidade segue exemplo de Padre Victor e acolhe os devotos de maneira diferenciada
Quarta-feira, dia de trabalho para a imensa maioria dos moradores do Sul de Minas e de tantas outras regiões de vários estados brasileiros. Ainda assim, milhares de pessoas deixaram seus afazeres e se deslocaram até Três Pontas. Vieram a pé, de moto, de carro, de vans, de ônibus em busca de bênçãos e também para agradecer graças que, afirmam, conseguiram por intermédio do Venerável.
Uns estão sempre por aqui, outros pela primeira vez pisaram na Terra do Padre Victor. São os casos de três senhoras de Conceição Aparecida. Dona Lucília Corrêa Marques há cinco anos coordena romaria. Ela conta que certa vez estava em Três Pontas se preparando para escrever um pedido de graça. Foi quando recebeu a notícia que o marido havia sofrido infarto. Rapidamente recorreu à proteção de Padre Victor e o esposo está recuperado. “Eu adoro vir aqui, já recebo em casa o livro da Novena e trago o pessoal sempre. As pessoas são muito educadas, a gente tem banheiro e cafezinho, é muito organizado”, registrou alegremente. A amiga, Fátima, veio pela quarta vez e Maria Isabel estreou. Ela disse que a romaria chegou às 6h30min e, após o desjejum, visitou o túmulo, rezou a Santa Missa, foi ao Memorial ver os pertences de Padre Victor e que, naquele momento, andava pela Praça conhecendo um pouco mais a Cidade. “Três Pontas é um lugar muito gostoso”, sentiu a devota.
O cafezinho citado pelas visitantes é servido em pontos estruturados nas principais vias de acesso a Três Pontas para apoio aos romeiros a pé e também nas barracas montadas na Praça Cônego Victor e no Parque Multiuso da Mina. Pão com manteiga, com carne, com salsicha, café, com leite, com chocolate formam o cardápio. Graças à doação da comunidade, tudo é servido gratuitamente. Existem alguns devotos que também oferecem refeições em cumprimento de promessas.
Maria de Nazaré Fradão, 67 anos, já perdeu a conta do tempo que passa o feriado de Padre Victor em pé, andando de um lado a outro, servindo. “Fico ansiosa para chegar logo o dia para poder vir aqui para a Mina e trabalhar. Fico até fechar a barraca e nunca me canso”, registra. Para dona Nazaré poder ajudar, principalmente quem vem de fora – maioria simples e com pouco dinheiro – é algo que não tem preço. Ela revela que Padre Victor está sempre atuando em sua vida e na de familiares e estar ali é apenas uma forma de demonstrar o quanto confia e é grata ao Venerável.
Durante todo o dia, a fila rumo às bicas que distribuem água brotada da terra se manteve enorme. Foi preciso paciência à espera da vez. Em alguns momentos, o Sintonizeaqui registrou reclamações, mas elas foram poucas frente à vontade de levar para casa o líquido que para os devotos é abençoado. No local, a Guarda Civil Municipal (GCM) garantiu a organização. No entanto, é notável que para os próximos anos será necessário mudar a estratégia e até mesmo os turistas sugeriram. “São três bicas, poderia então, formar três filas e, em pelo menos uma delas, priorizar idosos e pessoas acompanhadas de crianças”.
Foi também na fila, porém na Rua Dona Izabel rumo ao túmulo do Venerável, localizado no interior da Matriz D’Ajuda – Praça Cônego Victor, que encontramos Adevair Alves da Silva juntamente com a esposa Luzia e o irmão José Expedido. Terço nas mãos, velas para serem queimadas na lateral da Herma e a roupa de bebê a ser depositada aos pés de Padre Victor. Tudo isso, materializando o “muito obrigado” pelas graças alcançadas. “Vale a pena aguardar na fila, enfrentar o calor para passar rapidamente em frente ao túmulo. Somos muito devotos e confiamos muito no Padre Victor”, comentou Adevair. O casal já morou em Três Pontas e aqui nasceu o filho Marcelo. Hoje, reside em Lavras. Luzia contou que sempre desejou ao filho a paternidade e que as surpresas da vida tornavam o anseio distante. Sem perder a esperança, ela entregou o sonho nas mãos de Padre Victor e a família cresceu com a chegada de Ana Cecília que completou 1 ano e 5 meses.
Servir água fresca na fila de visitação ao túmulo que dá volta no quarteirão faz parte da estrutura de recepção aos devotos e romeiros. Na Praça ficam ainda barraca também de distribuição gratuita de água, tendas para agendar missas e relatar graças por intercessão de Padre Victor, posto da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e de atendimento à saúde. Outro serviço é o de informação instalado no Coreto.
Se os visitantes são recebidos com hospitalidade, tudo se deve aos voluntários. E eles são muitos em todos os segmentos, incluindo confissões, missas. Entre centenas de colaboradores, estava uma velha conhecida da comunidade trespontana, Alba Pena Forte, 72 anos. Ela mora em Coqueiral, mas vem a Três Pontas obrigatoriamente em duas datas, 3 de julho (aniversário dela e da Cidade) e 23 de setembro (Dia do Padre Victor). Nesta quarta-feira, compôs a equipe da barraca do café da Praça Cônego Victor. “Sou voluntária aqui a mais ou menos 11 anos. Fico emocionada porque essa Festa me lembra a partilha dos pães. Fico muito emocionada em saber que aqui em Três Pontas ninguém fica sem comer, ninguém passa fome ou sede. Acho isso muito bonito e tenho certeza que Padre Victor abençoa cada pão que cada pessoa recebe”.
A manhã já se findava quando Padre Elberson de Andrade, o Taquinho, se juntou ao povo que assistia à peça teatral sobre a vida de Padre Victor, encenada na Praça pelo Grupo Caminhos da Juventude. Nascido em Carvalhos, atualmente ele administra a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Alagoa. Foi um dos ajudantes nesta comemoração do 110º Aniversário de Morte do Venerável. Padre Elberson ajudou no atendimento de confissões, na Missa no Parque da Mina e fez uma observação sobre o número de visitantes em plena quarta-feira, 50 mil conforme cálculos da Polícia Militar. “Só Deus é capaz de trazer de tantos lugares pessoas tão diferentes e uni-las num só coração, numa só alma e fazer que mesmo na diferença, todos se sintam uma única família. E Deus concede essa mesma graça aqui em Três Pontas, a de congregar, de unir, de chamar as pessoas para o único objetivo, o de louvar e agradecer”.
Andando pela Cidade, “Taquinho” conversou com trespontanos e turistas. O Padre percebeu que Padre Victor está na vida do povo que já o considera santo. Notou que, como era o Sacerdote, simples e humilde, também era a maioria das pessoas que ali estava. Disse, então, que a tendência é que o movimento de devotos cresça. “O povo está carente de proximidade, amor, proteção, amparo e Padre Victor expressa muito isso e também acolhida. A Beatificação vem só para confirmar aquilo que já sabemos, que Padre Victor viveu bem as bem aventuranças, as virtudes e agora a Igreja dá a ele a graça de poder ser sinal para a mesma Igreja dessa bondade do amor de Deus”, justificou.
Para Padre Elberson, Três Pontas precisa iniciar um ajuste para poder receber o possível número maior de turistas. No entanto, destacou, existe aqui um diferencial em relação a outros santuários, a acolhida. “Veja, não há lugar para estacionar os carros, o calor está muito forte, mas o povo se sente bem. Isto porque os trespontanos acolhem, abraçam, cuidam da parte espiritual e do físico. Eu estava perto da barraca do café e um senhor me disse, ‘Padre, que pão mais abençoado. Seis horas andando, chegar aqui e ouvir da senhora ali seja bem-vindo, aqui está seu cafezinho com pão – só isso me alimenta e a gente passa satisfeito o dia todo’. Essa estrutura humana Três Pontas tem, é maravilhosa e deve ser incentivada”.
Finalizando, o Padre elogiou a volta do Grupo Teatral e confessou ter ficado emocionado com o relato de passagens de Padre Victor. Concluiu que dentro da Igreja existem dificuldades e que quando Deus tem um propósito para uma pessoa, nada tira. “A peça mostra claramente isso, o sofrimento de Padre Victor. Só que sofrimento sem Cristo é tormento e sofrimento com Cristo é redenção. Para Padre Victor o sofrimento foi redenção porque ele fez tudo com amor, foi capaz de suportar tudo. Vejo nesse teatro essa mensagem”.
O povo deve perseverar na caminhada porque Padre Victor continuará nos protegendo e Três Pontas sempre será um centro de peregrinação. A convocação é do Bispo da Diocese da Campanha, Dom Diamantino Prata de Carvalho. Segundo o líder religioso, a atuação do Venerável na vida das pessoas é facilmente constatada, por exemplo, na fila enorme que se forma ao redor da Igreja, mesmo com sol escaldante.
“O povo aflui porque confia em Deus que se manifesta santo nas pessoas santas. É sempre uma beleza encontrar pessoas que se reúnem, que se congregam para celebrar a santidade de Deus no Padre Victor que, através da sua ação caridosa, foi realmente um modelo de santidade para nós, por isso, seja segunda, quarta ou sábado o povo vem porque o povo acredita”, encerrou Dom Diamantino, prevendo que o Coadjutor, Dom Pedro da Cunha Cruz – que se preparava para celebrar à tarde – teria uma surpresa ao encontrar a multidão de devotos e romeiros. Seria a primeira participação do futuro sucessor de Dom Diamantino na Festa do Padre Victor.