Celular à parte: Doutor em Filosofia comenta iniciativa de jovens do Rotaract de Três Pontas
Há aproximadamente quatro meses, em uma reunião do Rotaract Club de Três Pontas, surgiu a ideia da “mesa de celulares”. A proposta era deixar os aparelhos desligados à parte das rodas de discussões. Deu certo. Conforme explica o Presidente do clube de serviço, Weslley Shanses Moreira, a distração deu lugar ao rendimento. Segundo ele, os encontros melhoraram em aproximadamente 60%. “Hoje temos uma reunião mais dinâmica e centrada e todos os projetos idealizados já tomaram rumo para a concretização”, comemora.
Incentivados pelos bons resultados, os membros do Interact Club trespontano seguiram o exemplo. E eles estão certos. Na opinião do Doutor em Filosofia e Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Paulo César de Oliveira, as pessoas precisam se educar diante dos recursos tecnológicos. Estar sempre conectado, ensina, não pode se tornar uma obsessão porque a distração é apenas uma das consequências.
Conheça um pouco mais sobre a opinião do Professor a respeito do assunto na entrevista concedida com exclusividade ao Sintonizeaqui.
Entrevista
Paulo César de Oliveira
Doutor em Filosofia e Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG)
Até meses atrás, durante as reuniões de trabalho, os membros do Rotaract e Interact de Três Pontas ficavam conectados o tempo todo na internet e redes sociais. Como o senhor analisa a iniciativa chamada por eles “mesa de celular”?
A atitude de deixar os celulares desligados em uma mesa à parte durante reuniões é uma medida disciplinar que visa evitar a dispersão. De fato, as pessoas estão enfrentando dificuldades de concentração em todos os ambientes e setores da vida. Tal fato se verifica em sala de aula, nas celebrações religiosas, nas atividades do cotidiano, como assistir a um canal de televisão sem mudar constantemente de canal. As redes sociais e os aplicativos despertam a curiosidade instantânea e, na maioria dos casos, geram ansiedade.
Ora, penso ser fundamental que a pessoa se eduque para ser livre diante desses recursos tecnológicos. Se a proibição de deixar os celulares desligados durante uma reunião favorecer a concentração e a liberdade da pessoa diante desse recurso, vejo com bons olhos.
O que essa mudança de postura pode proporcionar de bom para os membros em termos pessoais?
Depende da motivação. Se for uma demonstração de poder, sem fins educativos, pode representar uma invasão no mundo da pessoa. Se for uma postura educativa, de comum acordo com os participantes, pode significar um aprimoramento do caráter, administração da ansiedade e concentração no objeto da reunião.
E para os trabalhos em grupo?
Para os trabalhos em grupo favorece um melhor aproveitamento do tempo, evitando a dispersão, melhora o entrosamento e fortalece os vínculos entre os membros.
Ficar desconectado fora dos encontros, em alguns outros momentos, também seria interessante para adolescentes e jovens, por quê?
Penso que não é fundamental estar sempre conectado. É preciso saber o que está ocorrendo no mundo; mas isso não pode se tornar uma obsessão. Diz Umberto Eco que as redes sociais dão voz a uma legião de imbecis. É preciso cautela. Penso que as redes sociais, aplicativos e outras tecnologias não deveriam ocupar espaços durante as refeições em casa, com os familiares; assistindo peças de teatro, encontros religiosos etc. No mínimo os celulares deveriam estar no silencioso.
Tomar a mesma iniciativa seria uma boa para adultos que se “esquecem do mundo presencial” até em momentos delicados, importantes?
Com certeza. A minha reflexão não se restringe a adolescentes e jovens. Os adultos inspiram ou deveriam inspirar condutas.
Considerações finais
Apesar de todos os benefícios da tecnologia, nada supera a comunicação interpessoal, pura, real. O mundo real é mais amplo, belo e fascinante que o mundo virtual. Faz-se necessário descobrir diariamente o mundo real. O primeiro passo é descobrir; é conhecer-se!
Complemento
Pelo link abaixo, você acompanha a entrevista com o Presidente do Rotaract Club de Três Pontas, Weslley Shanses Moreira, sobre a iniciativa “mesa de celulares”.
(Fotos projeto: Rotaract Club de Três Pontas)