Carnavaliza TP – Carnaval muda da Praça da Matriz para a Praça do Centenário e novo pároco de Três Pontas explica o porquê
A programação do carnaval 2019 em Três Pontas continua a mesma divulgada anteriormente: marchinhas e muito samba dos atuais e antigos tempos a partir das 14 horas. Mas houve uma mudança. A festa não acontecerá na Praça Cônego Victor e, sim, um pouco abaixo, na Praça do Centenário, popularmente conhecida como praça do arco-íris, também no Centro da cidade.
De acordo com integrante do grupo que criou o Carnavaliza TP, movimento que propõe um resgate, já que o reinado de Momo perdeu completamente a característica carnavalesca no município, já estava tudo formatado para que o carnaval acontecesse na Praça da Matriz quando a Paróquia Nossa Senhora d’Ajuda solicitou que a festa fosse transferida para outro espaço. Em reunião com o novo pároco, Cônego José Douglas Baroni, a equipe teria insistido, no entanto, prevaleceu o pedido de troca.
Segundo a comissão organizadora, o sentimento foi de retrocesso, mas houve revitalização de forças e os membros bateram de porta em porta, explicando o projeto para os moradores. A resposta, afirmam, foi positiva. Assim, todo um trabalho está sendo feito para adequar o projeto da Matriz à Praça do Centenário – “charmosa, sombreada e com área suficiente para realizarmos os quatro dias de folia. A Praça do Centenário estava ali, toda aconchegante e receptiva”, publicou a jornalista Ana Luísa Leite.
Na manhã de quinta-feira (7), Cônego José Douglas recebeu o SintonizeAqui e explicou porque foi firme na decisão. Acompanhe a entrevista.
Entrevista
Cônego José Douglas Baroni
Pároco da Paróquia Nossa Senhora d’Ajuda – Três Pontas (MG)
Cônego José Douglas, primeiramente nós agradecemos por receber o SintonizeAqui e aproveitamos para dar ao senhor as nossas boas-vindas.
É uma alegria poder falar com vocês por este veículo tão importante.
Por que a Paróquia pediu a mudança do local de realização do carnaval de Três Pontas?
É bom que nós tenhamos a sensibilidade e o bom censo de saber discernir e compreender as coisas como civis. É bem verdade que a nossa Igreja tem a sua identidade própria. A Paróquia prima pelos seus valores cristãos, por isso devemos compreender com muita propriedade que também a nossa Paróquia – dedicada à Senhora d’Ajuda, é uma Paróquia totalmente diferenciada porque tem um Beato dentro dela, que foi nosso pároco Padre Victor. Então, não é uma Paróquia como qualquer outra. É uma Paróquia marcada pela presença de um Santo verdadeiramente, que pisou nesta terra, que se santificou aqui em Três Pontas e devemos dar o valor devido àquele que é chamado Anjo Tutelar de Três Pontas. Esta piedade e devoção ao Beato Padre Victor não é algo estacional na data de 23 de setembro ao que perpassa toda a nossa cultura religiosa. Então, nós somos moradores, somos defensores desse legado espiritual do Beato e, por isso, o carnaval não acontecerá na Praça da Matriz: em respeito primeiramente à Igreja que é de Jesus Cristo, ao Nosso Senhor que é princípio e fim de nossa fé e também pelo nosso Beato Padre Victor.
Cônego, existe uma declaração da organização de que o seu antecessor padre Ednaldo havia permitido a realização do carnaval na Praça da Matriz. O senhor chegou a conversar com ele sobre este assunto?
O meu predecessor Padre Ednaldo passou por aqui por oito anos e já existia esta situação em não ter festas na Praça da Matriz. Eu, que estou chegando agora, não estou proibindo nada, estou apenas mantendo o que sempre existiu. Nós temos documento da antiga prefeita que decretou que nenhum evento aconteceria na Praça da Igreja. Acredito que esse decreto, expedido pela Prefeitura local, não pode ser derrubado. Temos esta documentação: a Praça da Matriz para eventos culturais.
O senhor poderia comentar como foi o encontro com a equipe da Secretaria Municipal de Cultura que faz parte da organização do carnaval trespontano?
Tivemos uma conversa muito saudável aqui nesta sala com o secretário municipal de Cultura, o Alex, e sua equipe. Agradeço imensamente a eles pela acolhida, pela gentileza, pela cortesia da visita. Não existe nenhuma animosidade – que fique bem claro. Não existe briga, pelo contrário, existe diálogo e respeito.
Quero que fique bem claro que existem comentários não muito bem-vindos, coisas que não são reais, que não são verdadeiras. É preciso que a gente esclareça na lucidez, no bom censo. Na conversa que tivemos aqui com o Alex e sua assessoria, uma conversa amigável, eu dizia a eles que é preciso que nós tenhamos esta parceria de Prefeitura e Paróquia, Paróquia e Prefeitura que são dois órgãos distintos, mas que trabalham para o bem comum. Uma política bem aplicada é a maior caridade que possa existir, já dizia o Papa Paulo VI que é Santo. Então, uma política bem aplicada, bem direcionada, bem intencionada é a mais perfeita caridade que se possa fazer em favor do outro. Então, se a política for usada para a caridade perfeita, unida à Igreja quanta beleza teremos, quanta realização teremos, então, é preciso ter esta lucidez.
Eu não sou um padre polêmico, de confusões e jamais quero colocar a mídia para ser motivo de contendas, de divisões. Eu sou muito do diálogo, acredito que o diálogo é o grande caminho da compreensão verdadeira que é o princípio aristotélico. O grande filósofo Aristóteles diz: temos três níveis de conversa. O primeiro é o mais baixo de todos: falar de pessoas. O segundo nível de conversa é falar de fatos e o terceiro é o mais nobre: de ideias e projeções. Então, vamos ficar neste terceiro nível, das projeções, das ideias, de situações que nos elevam cada vez mais.
É preciso que a gente utilize os meios de comunicação à nossa convivência para promover e não para gerar dessabor, gerar situações que venham perder a sua integridade moral, física e perder a sua beleza em si porque a vida é tão bonita, nós que complicamos a simplicidade da vida. Uma coisa tão simples vira, como diz o bom mineiro, tempestade em copo de água. É bom usar sempre desse discernimento, dessa cultura do encontro como tanto pede a Sua Santidade, o Papa Francisco. Ter este colóquio, ter essa presença é muito saudável.
E muito me alegra ter vocês (SintonizeAqui) comigo aqui agora e ter a oportunidade de usar este meio de comunicação para dizer o que de fato está acontecendo. Volto a dizer mais uma vez: não existe nenhuma situação amistosa entre Paróquia e Prefeitura, não existe nada que está criando divisão entre este ou aquele. Apenas estamos ponderando o que é Igreja é Igreja, o que é do Município é do Município. Tendo esta clareza, nós caminharemos perfeitamente, tendo respeito, a devida delicadeza para tudo e para todos. Por isso é bom que nós tenhamos este olhar sereno, tranquilo, pacífico.
Cônego José Douglas, o que o senhor espera para este carnaval?
Olha, eu desejo que seja um carnaval bem aproveitado, um carnaval em que a pessoa possa se encontrar, possa se alegrar. A Igreja não é contra as festas, pelo contrário, a Igreja promove as festas. Nós não somos pessoas retrógradas, pessoas totalmente fora do seu padrão social porque a festa congrega, traz motivações, mas as nossas festas têm outra dinâmica, têm uma outra postura. Dias atrás tivemos a Festa de São Sebastião, lá no Pontalete e logo teremos a grande Festa da Padroeira de Três Pontas. Então, a festa é muito bem-vinda, a festa ajuda perfeitamente só que as nossas festas não têm esta marca da liberdade profunda, existe uma certa postura, uma certa tranquilidade porque são festas religiosas, bem diferentes de fato. Não podemos comparar e toda comparação é odiosa, então, devemos dar o respeito devido.
Digo mais uma vez ao Alex e sua equipe que possam usufruir bem desta festa. Manifesto meus votos a todos eles e a todos os munícipes de Três Pontas para que possamos viver um tempo tranquilo, um tempo de harmonia, de paz, de serenidade a todos.