Cancelamento de homenagem a Aureliano Chaves gera reação de políticos e familiares
Há cerca de nove meses, a Petrobras retirou o nome do trespontano Antônio Aureliano Chaves de Mendonça da Usina Termelétrica de Ibirité, município localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Desde que o cancelamento da homenagem ganhou maior publicidade, despertou a atenção de familiares e de várias autoridades políticas que até o momento têm reagido à decisão.
O prefeito de Três Pontas, Marcelo Chaves Garcia, por exemplo, enviou Ofício ao deputado federal, Diego Andrade, majoritário e Cidadão Honorário do município, pedindo empenho na manutenção do nome do conterrâneo. No documento, emitido no final de junho, o prefeito justificou que Aureliano Chaves “possui notória carreira política, inclusive ocupando o ilustre cargo de Ministro de Minas e Energia”. Ainda na correspondência, Marcelo Chaves acrescentou: “Aureliano Chaves foi um político mineiro ímpar, que ocupou grandes cargos no âmbito político e era conhecido por sua conduta ilibada, pautada na ética e na honestidade”.
Quem também recebeu Ofício do prefeito de Três Pontas, foi o senador Antônio Anastasia, mineiro de Belo Horizonte, ex-governador de Minas Gerais. A ele, o prefeito agradeceu o empenho para que a estatal reveja a decisão e a Termelétrica volte a sustentar o nome do líder político trespontano.
Outra liderança que defende a retomada da homenagem a Aureliano Chaves, é o deputado federal Charlles Evangelista. Em Ofício ao ministro de Estado de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, com data de 14 de julho, o deputado comenta que a alteração gerou comoção na classe política e na sociedade mineiras. Charlles Evangelista descreveu que Aureliano Chaves “dedicou sua vida ao serviço público e à política, contribuindo para o fortalecimento da Democracia e desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil”.
Familiares do homenageado, tais como o filho Antônio Aureliano Sanches de Mendonça e a irmã Níobe Chaves também propagaram o descontentamento frente à desbatização.
Em vídeo enviado ao Jornal Estado de Minas, divulgado no último dia 12, o ex-senador Antônio Aureliano disse que a justificativa para a alteração do nome da usina é uma ignorância, digna de quem não conhece a história do Brasil. Ele lembrou que vários prédios públicos levam o nome de seu pai pelo estado de Minas Gerais. “Meu pai foi um homem público honrado, respeitado e reconhecido no país. Ocupou todos os cargos importantes da República. Era um homem que tratava a todos com respeito. Meu pai repudiava a ditadura e a tortura. Contribuiu de forma intensa para o processo de redemocratização, indo contra a vontade do militarismo radical’’, declarou.
A mudança
A Usina Termelétrica “Aureliano Chaves” foi inaugurada em junho de 2002. Segundo a Petrobras, ela e outras 10 – através das quais foram homenageadas personalidades nacionais, “a maioria vinculada ao pensamento progressista e alguns ligados à história da própria empresa criada em 1953” – voltaram a ter nomes que fazem referência às suas localizações.
Isso, continua a estatal – devido a uma questão jurídica, ou seja, para facilitar o registro dos nomes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). “A empresa alega que segundo a Lei de Propriedade Industrial, em seu artigo 124, não são registráveis ‘o nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores’. Pelo menos em alguns casos, sabe-se e que o argumento não se sustenta”, já que herdeiros de homenageados comentam junto à imprensa que, além de autorizar a homenagem, participaram de solenidade de inauguração das respectivas usinas.
Usinas que tiveram os nomes de personalidades cancelados
- Aureliano Chaves (Ibirité – MG)
- Sepé Tiarajú (Canoas – RS)
- Barbosa Lima Sobrinho (Seropédica – RJ)
- Euzébio Rocha (Cubatão – SP)
- Fernando Gasparian (São Paulo – SP)
- Leonel Brizola (Duque de Caxias – RJ)
- Luiz Carlos Prestes (Três Lagoas – MS)
- Mario Lago (Macaé – RJ)
- Celso Furtado (São Francisco do Conde – BA)
- Jesus Soares Pereira (Alto do Rodrigues – RN)
- Rômulo Almeida (Camaçari – BA)
Aureliano Chaves: um nacionalista convicto
Antônio Aureliano Chaves de Mendonça nasceu em Três Pontas, Minas Gerais, em 13 de janeiro de 1929. Era filho de José Vieira de Mendonça, professor e cirurgião dentista, e de Luzia Chaves de Mendonça. Casou-se com Minervina Sanches de Mendonça, com quem teve três filhos: Maria Guiomar, Antônio Aureliano e Maria Cecília.
Concluiu sua formação secundária no ano de 1953, em sua cidade natal. Formou-se em Engenharia Elétrica e Mecânica pelo Instituto Eletrotécnico de Itajubá – MG. Nesse período, participou do movimento estudantil ligado à União Democrática nacional (UDN). Ainda em Itajubá, exerceu a função de professor de sistemas de geração e transmissão de energia elétrica.
Iniciou sua carreira política em 1958, quando obteve a quarta suplência como deputado da Assembleia Legislativa mineira na legenda UDN. Exerceu o mandato por curtos períodos em 1959, 1960, 1961. Em outubro de 1962, foi novamente eleito deputado estadual em Minas Gerais, pela mesma legenda. Em 1964, licenciou-se do mandato para assumir a Secretaria de Educação do Governo Magalhães Pinto.
Em 1966, elegeu-se deputado federal pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Dois anos mais tarde votou contra o pedido de autorização feito pelo governo militar para processar o deputado Márcio Moreira Alves, que havia criticado o governo em um discurso no Congresso. Esse episódio foi o estopim para a edição do AI-5, Ato Institucional que caçava, definitivamente, todos os direitos políticos de qualquer cidadão. A atitude de Aureliano Chaves fez com que seu nome constasse da lista dos deputados arenistas que poderiam ter seus mandatos cassados, mas a medida não se efetivou.
Em 1970, presidiu a Comissão de Minas e Energia da Câmara. Foi nessa época que conheceu o General Ernesto Geisel, então presidente da Petrobras, de quem se tornou amigo. Quando Geisel assumiu a Presidência, em 1974, indicou Aureliano para o governo de Minas Gerais (1975 – 1978).
Em 15 de março de 1979, João Batista Figueiredo assumiu a Presidência da República, tendo Aureliano Chaves como vice-presidente. No dia 04 de julho do mesmo ano, Aureliano foi escolhido pelo Presidente para presidir a Comissão Nacional de Energia. Em setembro de 1981, Aureliano assumiu a Presidência por mais de 90 dias, quando o Presidente Figueiredo sofreu um infarto.
Participou da criação da Frente Liberal (grupo que congregava políticos do PSD insatisfeitos com a indicação de Paulo Maluf à sucessão de Figueiredo), que resultaria na criação do Partido da Frente Liberal – PFL. A Frente Liberal uniu-se ao PMDB e apoiou o lançamento de Tancredo Neves e José Sarney para a Presidência da República.
Após a morte de Tancredo e a posse de José Sarney, Aureliano Chaves passou a ocupar o cargo de ministro das Minas e Energia (1985 – 1988). Entre suas principais realizações está a criação do Horário de Verão, idealizado para diminuir o consumo de energia durante o horário de pico (17h às 22h). Com o retorno das eleições diretas, em 1989, lançou-se candidato à Presidência da República pelo PFL. Não obtendo um bom desempenho nas eleições presidenciais, preferiu afastar-se e encerrar sua carreira política.
Aureliano era um nacionalista convicto, qualidade cada vez mais rara nos dias atuais. Em 1993, publicou um artigo que afirmava a importância do monopólio estatal de petróleo na consolidação do desenvolvimento nacional.
Faleceu de problemas cardíacos no dia 30 de maio de 2003.
(Fontes: Prefeitura de Três Pontas, Memorial Aureliano Chaves de Três Pontas, Secretaria Municipal de Cultura; EM/Rede Brasil Atual)