Balanço: Solidariedade do povo de Três Pontas resulta em 20 toneladas de água para vítimas da tragédia das barragens de minério
Por Mariana Tiso (Estagiária)
Edição Arlene Brito
No dia 16 de novembro, a médica Adélia Maria Batista e alguns amigos, criaram um evento no “Facebook” chamado “Três Pontas: Água Potável Para a População Ribeirinha do Rio Doce”. A ação visava unir forças para a doação de água às cidades afetadas pela lama vinda das barragens rompidas da mineradora Samarco.
O movimento aconteceu depois do final de semana de terrorismo na França e ganhou força pelas postagens, na internet, de pessoas se manifestando sobre a importância da união dos mineiros para que sejam resolvidos seus próprios problemas, colocando em evidência o maior desastre ambiental da história do Brasil. Assim, dezenas de trespontanos se uniram para organizar pontos de recolhimento de água potável para seguir viagem até às comunidades ribeirinhas afetadas pelo desabastecimento. Várias delas possuem apenas o Rio Doce como fonte.
Além do grupo de Dra. Adélia, outros segmentos se envolveram na iniciativa solidária, dentre eles, a Embaixada Fla-Minas e a Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo. De acordo com a Secretária, Débora Andrade, o departamento foi acionado – via rede social – e, no decorrer da campanha, a equipe se desdobrou. A Casa da Cultura Alfredo Benassi – sede da Secretaria – virou ponto de recolhimento e o evento cultural denominado Sarau no Quintal, que já estava marcado, foi divulgado como Sarau Solidário pedindo ajuda às pessoas.
Levar as doações até a região de Mariana seria, então, outra problemática e, desde o início, sabia-se, só seria resolvida através da boa vontade de seres humanos iluminados.
Já pelo final da semana, quando todos os pontos de coleta – residência da Dra. Adélia, sede da Fla-Minas, Casa da Cultura – já estavam cheios de água, os voluntários novamente se mobilizaram, agora para embarcar os donativos. A Secretária Débora Andrade revela que havia em vista uma transportadora amiga, na cidade de Varginha, a Translume, da empresária Natália Marques. Estava certa. Através dessa empresa, foi possível distribuir a água arrecadada na Terra de Padre Victor. O povo de Santana da Vargem e Boa Esperança também colaborou.
Mas, o problema inicial ainda não tinha sido resolvido: como levar a grande quantidade de galões e garrafas até Varginha? “O Ronaldo da Artvac entrou em contato com a Secretaria de Cultura, para saber como ele poderia ajudar, foi então que nos unimos para enviar as águas para Varginha”, completa Andrade.
Na quinta-feira (26), o terceiro caminhão da Artvac saiu de Três Pontas com destino à cidade vizinha. Os trespontanos mais uma vez colocaram em prática uma das suas mais marcantes características, herança do Beato Padre Victor: a solidariedade e o amor aos mais necessitados.
Entrevista
Natália Marques
Empresária
Gostaríamos que se identificasse falando um pouco de você e de qual é o papel da sua empresa na distribuição da água para as comunidades da região de Mariana. Por que você se envolveu?
Sou apaixonada pela natureza e essa situação, ver toda aquela gente perdendo tudo, ver os peixes mortos, ver a natureza morta, me comoveu profundamente. Fiquei alguns dias recebendo compartilhamentos nas redes sociais e fiquei pensando de que forma eu poderia ajudar. Como trabalho em uma transportadora, pensei que seria mais fácil para movimentar as arrecadações, mesmo ainda não sabendo bem de que forma seria feito. Nós não esperávamos arrecadar tanta água e outros donativos, tais como, roupas, toalhas, produtos de higiene pessoal etc.
Foi aí que, numa conversa de salão, uma amiga comentou que a empresa dela também estava com a campanha de arrecadação de donativos e resolvemos juntar a quantidade arrecadada e fretar um único caminhão. Como parte dos donativos foi arrecadada em Alfenas, o caminhão saiu de lá e coletou o restante em Varginha, acompanhado de um grupo de voluntários de Alfenas.
Para quais cidades as doações foram levadas?
Para Belo Horizonte (SERVAS), Governador Valadares e Mariana.
Você sabe falar a quantidade que deixou Alfenas e Três Pontas em socorro às vítimas dessa tragédia?
A primeira remessa foi de aproximadamente 18 toneladas e foi em uma carreta. Como durante esta semana ainda estávamos recebendo doações e havia sobrado um pouco da outra semana que não coube neste primeiro caminhão, iríamos mandar direto para Belo Horizonte, aos poucos, já que temos carros menores todos os dias para este destino o que nos facilitaria. Este restante iria para o SERVAS. Voluntários de BH iriam dar destino às doações e enviar para os demais municípios afetados pelo desastre.
Quando, ontem (26) pela manhã, tomei conhecimento que uma outra transportadora, aqui de Varginha, estava disponibilizando mais uma carreta e um caminhão truck para levar as doações de água com destino à Governador Valadares e que eles estavam aguardando completar a carga, entrei em contato e hoje mesmo mandei mais dois caminhões pequenos para eles, um com doações da população abençoada de Três Pontas!
Como sou de São Paulo, alguns familiares viram meu post e também recebemos algumas doações de lá, até que a campanha se espalhou e um de nossos clientes se envolveu nesta causa e doou 26 carretas de água, estas com destino à Colatina (ES).
Em Três Pontas, a Débora chegou até você pedindo ajuda, como foi isso?
A Débora viu meu post na rede social e me disse que Três Pontas também estava mobilizada nesta causa e me perguntou como eu faria o transporte do que eu estava arrecadando. Contei a ela e ela me pediu se eu podia mandar o que ela arrecadasse junto e, assim, foram 20 toneladas de água, doadas pelo pessoal de Três Pontas.
Como você analisa a mobilização por uma causa como esta?
Acredito que devemos fazer o que está ao nosso alcance para poder ajudar o próximo, tudo dentro das nossas possibilidades. Um copo de água não me faz falta, mas para quem está sem água ou recebendo água com lama, um copo faz toda diferença! Provamos isso, unimos três municípios do Sul de Minas e de litro em litro mandamos três caminhões cheios, apenas com a arrecadação de cada um de nós. Acho, sim, que nossos corações unidos podem, sim, mudar o mundo!
(Fotos: Rede Social Dra. Adélia)