Associação Comercial propõe união para o combate à criminalidade
Entender os números, conhecer as dificuldades encontradas pela Polícia e buscar meios de frear a criminalidade em Três Pontas, principalmente quanto aos furtos e roubos que têm tirado o sossego do comércio e da comunidade.
Com este objetivo a Associação Comercial e Agroindustrial (Acai) – através do Presidente, Michel Renan Simão Castro – convocou uma reunião realizada na noite desta quinta-feira (16) em sua sede, no Centro da Cidade. Polícia Militar, Polícia Civil, Consep, Sistema Prisional, Poder Público, Clubes de Serviços, comerciantes, empresários e outros segmentos discutiram a realidade local e as alternativas que podem auxiliar na garantia da segurança pública.
Ao abrir o evento, o Comandante da Polícia Militar de Três Pontas, Tenente Bruno Neves, tentou desmistificar a responsabilidade que recai sobre a Instituição quanto à manutenção da ordem. “A Polícia Militar sozinha não consegue resolver o problema da segurança pública. Ela depende do Executivo, do Legislativo, das escolas, da sociedade, enfim, é apenas um elo”, disse.
Em seguida, comprovou que houve um aumento nos crimes violentos praticados na Cidade. No entanto, explicou, o índice de criminalidade no Município é pequeno, por isso, a sensação de insegurança instalada com os últimos acontecimentos. Em março e começo de abril ocorreram 13 assaltos na Cidade.
Ainda de acordo com o Comandante, de janeiro ao dia 10 de abril foram contabilizados 18 crimes violentos contra 11 registrados no mesmo período de 2014. O ano passado fechou com 30, número consideravelmente inferior, 200, conforme média do Estado para municípios com população semelhante à de Três Pontas.
Em relação aos crimes contra o patrimônio houve queda de 14,65%. As ocorrências desceram de 307 para 262 de janeiro a março comparando 2014 a 2015.
A repressão foi mais um item apresentado. Também de janeiro a março, ano passado, a Polícia Militar de Três Pontas realizou 1.180 prisões e 202 apreensões de menores, totalizando 1.382 conduções. Neste ano já são 222 prisões, 25 apreensões de menores, somando 247 conduções.
Dos indivíduos que praticaram crimes recentemente, 24 foram presos ou apreendidos. Os não detidos somam 19 dos quais 12 estão identificados. Dos 7 restantes não identificados, suspeita-se que 5 são de outras localidades.
Ao revelar que incontáveis crimes são praticados por reincidentes (alguns chegam a ser presos 3, 5 vezes numa mesma semana), Tenente Bruno surpreendeu, sobretudo, participantes da reunião que não acompanham bem de perto a atuação das autoridades policiais. Segundo o Comandante, o prende ou apreende e solta, é resultado da impunidade facilitada pela Legislação Brasileira.
Aumentar o efetivo está entre as necessidades da Polícia Militar, apontadas na ocasião em que o desejo de união e ajuda esteve em evidência.
Polícia Civil
“É muito importante a sociedade se preocupar e não ficar quieta esperando a situação piorar”. Com o elogio à iniciativa da Acai, o Delegado da Polícia Civil, Roberto Alves Barbosa Junior, começou sua explanação. Ele completou as informações do Tenente Bruno, esclarecendo que o inquérito policial é complexo e para garantir que o cidadão em conflito com a Lei fique na cadeia são exigidas provas técnicas, testemunhais, periciais, enfim, uma série de legalidades cumpridas dentro de muita burocracia.
Não bastasse o procedimento a ser seguido, o trabalho da Polícia Civil enfrenta outros obstáculos, conforme apontou o Delegado. Os recursos pessoais e materiais estão aquém da demanda. Dr. Roberto revelou que ele e colegas costumeiramente pagam do próprio bolso manutenções na Delegacia.
Frisou ainda que, não fosse a parceria da Prefeitura, a situação poderia estar insustentável. O quadro de pessoal é completado por servidores cedidos pelo Município e estagiários. Além disso, disse, a Prefeitura tem colaborado também com manutenções e reparos.
Na avaliação do Delegado, o Plantão Regionalizado é mais uma pedra no caminho da segurança pública. Ocupar viaturas e policiais no deslocamento de detidos, vítimas, testemunhas envolvidos em fatos ocorridos após as 18 horas, finais de semana e feriados para serem ouvidos em Varginha, na opinião do Delegado, é um desgaste para todos e ainda desfalca a segurança na Cidade.
Dr. Roberto também defendeu o aumento do efetivo para que sejam reforçadas as ações preventivas e de investigação e o estreitamento dos laços entre Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público e Poder Judiciário.
“A Polícia Civil entende que o aumento da criminalidade está ligada ao crescimento da população, à crise econômica, ao avanço das drogas. Nós e a Polícia Militar estamos empenhados e, com certeza, abertos a auxílios de entidades preocupadas com o social”.
Foi o Delegado quem mais bateu na tecla da tendência do aumento – e não da redução – da criminalidade, justamente considerando esses fatores. Ainda assim, ele motivou a união para o enfrentamento dos problemas do setor.
O Presidente da Acai, Michel Renan, deixou claro que o encontro era justamente com o intuito de criar mecanismos e ferramentas para combater a criminalidade de hoje e de amanhã. Sobre o futuro, visualiza, ela poderá ser crescente na localidade também em função do aumento da população flutuante atraída pelo turismo religioso que tende a se fortalecer com a possível Beatificação de Padre Victor e “Nossa Mãe”.
Presídio
Questionado por um participante, o Diretor do Sistema Prisional de Três Pontas, Washington Fonseca, informou que o Presídio local é referência no Sul de Minas porque a equipe está conseguindo colocar em prática um trabalho diferenciado. Motins, rebeliões estão passando longe do espaço e há dois anos, destacou, por lá não há disparo de arma.
Na explanação, mais uma vez apareceu a parceria do Prefeito Paulo Luis Rabello (PPS). “Temos conseguido grandes resultados, mas 90% da manutenção estrutural têm vindo da Prefeitura. A Polícia Militar, Polícia Civil e Associação Comercial também nos ajudam muito”, mencionou.
Consep
Organizado para discutir, analisar, planejar e acompanhar a solução de problemas comunitários de segurança, desenvolver campanhas educativas e estreitar laços de entendimento e cooperação entre as várias lideranças locais, o Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) também esteve presente. Os dados e as sugestões levantados na reunião deverão fortalecer a entidade no Município, já que formam uma base para a elaboração de ações que satisfaçam as reais necessidades da população trespontana.
Caminhos
E foi o Presidente do Consep, Paulo Fasano, quem iniciou uma rápida exposição de ideias que começam a ser colocadas em prática, visando a contenção da criminalidade local.
Segundo ele, dentro de um projeto piloto, será instalada câmera no cruzamento das avenidas Ipiranga e Oswaldo Cruz. Dependendo do resultado, poderá acontecer a expansão da iniciativa, desde que haja apoio para a criação de uma central de monitoramento.
Ao retomar a palavra, Tenente Bruno informou que nesta semana foram reiniciadas as atividades da Rede de Vizinhos Protegidos com uma inovação, um grupo de Whatshapp composto pelos moradores e PM.
Outra novidade, anunciou o Tenente, é a Rede de Comerciantes Protegidos – iniciativa lançada na manhã desta sexta-feira (17), no Centro Cultural Milton Nascimento.
Outros Caminhos
Da roda de conversa saíram algumas sugestões para o combate à criminalidade a médio e curto prazo.
De imediato, os participantes propuseram – entre outros – tentar a criação de canal direto das Polícias com o Poder Judiciário e Promotoria para encurtar os prazos, por exemplo, da expedição de mandados de busca e apreensão; tentar junto ao Estado o aumento do efetivo das Polícias; ampliar blitz de trânsito voltando maior atenção aos motociclistas (motos têm sido comumente usadas em assaltos pela facilidade de fuga) e ainda intensificar a ronda principalmente em horário de fechamento do comércio.
Embora ausentes, a Juíza de Direito Dra. Raíssa Figueiredo, Promotores e os Deputados Mário Henrique “Caixa” (PCdoB), Odair Cunha (PT) e Diego Andrade (PSD) se dispuseram, por meio de ofícios e representantes, a colaborar.
Um documento será encaminhado a estas e outras autoridades com o conteúdo da reunião, portanto, com alguns anseios da população trespontana ali representada.